ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | O biopic (biografia cinematográfica): o clássico e a desconstrução |
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Autor | Fabio Luciano Francener Pinheiro |
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Resumo Expandido | Biopics, ou biografias cinematográficas, são parte importante da produção contemporânea. Filmes como Lamarca (Sergio Rezende, 1994), Gonzaga – De pai para filho (Breno Silveira, 2012), Lula, Filho do Brasil (Fabio Barreto, 2010) W. (Oliver Stone, 2008), Marie Antoinette (Sofia Coppola, 2006) atraem a atenção do público e da crítica. Muitas vezes são veículos para o reconhecimento do trabalho de atores e atrizes que interpretam os biografados. Apesar desta popularidade, há pouca reflexão sobre o gênero. Primeiro, porque o biopic traz em sua essência uma natureza híbrida, que cruza com outros gêneros. Uma biografia pode ser um melodrama, uma comédia ou um drama de guerra. Segundo, porque costuma-se pensar no biopic com certa desconfiança, como uma estrutura narrativa que tende a omitir ou exagerar acontecimentos sobre a existência do biografado. Estas indefinições levam ainda a questionamentos sobre quais seriam os códigos inerentes ao biopic como gênero e se efetivamente estes códigos não pertenceriam a outros gêneros mais facilmente identificáveis. CUSTEN (1992), autor da primeira reflexão sistemática sobre o biopic, aborda o gênero em sua consolidação durante a era de ouro dos estúdios, de 1927 a 1960. Neste período, o biopic celebra o que o autor chama de “grande homem” – na maioria das vezes homem, excluindo mulheres, em filmes sobre reis, políticos, militares, inventores e personagens próximos dos ambientes de poder e influência sobre a sociedade e os rumos de sua época. São traços deste biopic clássico: letreiros informativos na abertura, voz over, sequencias de montagem, cenas de julgamento, flashbacks, fotografias do biografado ao final, a presença de obstáculos como pretexto para evidenciar um dom especial, o apoio ou oposição da família, o confronto com a sociedade em que vive, ideias e atitudes inovadoras. BINGHAM (2010), em uma perspectiva mais aberta, faz um levantamento de diversos biopics em duas grandes frentes, a dos filmes sobre homens e as biografias sobre mulheres, que o autor associa a características como sofrimento e vitimização – ao menos em filmes até a década de 1960. O autor defende que o biopic, como gênero autônomo, filia-se a uma tradição e que passa pelas mesmas transformações que outros gêneros, cumprindo o percurso de surgimento, consolidação e decadência. O biopic entra em crise na década de 1960, quando as narrativas sobre o “grande homem” são solapadas pela desconfiança do público e pela influência da modernidade europeia no cinema de estúdio. O gênero praticamente desaparece na década de 1970, no momento mais criativo do cinema americano, com a Nova Hollywood e ressurge nos anos 1980, com uma abordagem mais autoral, aberto a questionamentos e desconstruções. A partir deste breve quadro teórico e de contribuições similares, propomos uma reflexão sobre dois biopics contemporâneos e suas distintas estratégias de representação: Lincoln (Steven Spielberg, 2012) e Anti-herói Americano (American Splendor, 2003, Robert Pulcini e Shari Berman). O filme de Spielberg concentra-se nos últimos meses de vida do presidente e em seus esforços para a aprovação da Nona Emenda, que garantiria a libertação dos escravos e o fim do conflito com os estados confederados. O filme revela os bastidores da aprovação da emenda, com negociações envolvendo distribuição de cargos e compra de votos entre os congressistas do Partido Democrata. Neste biopic clássico-melodramático, Lincoln é retratado como um político hábil, carismático, experiente, virtuoso, humanista e generoso. American Splendor, mais que um biopic, é a desconstrução da própria noção de biografia. Ao abordar a vida do funcionário público Harvey Pekar, criador de narrativas sobre o seu próprio cotidiano, ilustradas por quadrinistas como Robert Crumb, o filme reúne depoimentos do próprio Pekar com a encenação construída por atores. Acompanhamos então diversas situações ordinárias que inspiram o escritor a criar suas histórias, explicitamente autobiográficas |
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Bibliografia | ALTMANN, Rick. Los gêneros cinematográficos. Barcelona: Paidos, 2000. |