ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | Até a China e a produção de documentários animados no Brasil |
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Autor | Jennifer Jane Serra |
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Resumo Expandido | Esta proposta de comunicação tem como ponto de partida a análise do curta-metragem "Até a China" (Marcelo Marão, 2015), considerando a estrutura narrativa e os materiais empregado nessa obra e como ela se relaciona com o atual cenário da animação brasileira. Nas últimas três décadas, a combinação entre narrativas não ficcionais e técnicas de animação tem se popularizado, acompanhando novas tendências do cinema documentário e também uma mudança na visão sobre o filme de animação, agora tida como uma ferramenta criativa para abordar temas associados ao universo adulto e ao mundo real. Nesse contexto, destaca-se a projeção do “documentário animado” como uma nova categoria de filme documentário. A produção de documentários animados se desenvolveu em países como Inglaterra, Canadá e França, mas no Brasil ela é ainda incipiente e esporádica, resultado quase sempre de trabalhos singulares de animadores cuja filmografia está baseada no cinema ficcional, como, por exemplo, "Dossiê Rê Bordosa" (2008), de Cesar Cabral, e "O Divino, De Repente" (2009), de Fábio Yamaji. Assim como Cabral e Yamaji, Marão tem seu trabalho focado no cinema autoral ficcional e está envolvido no desenvolvimento da animação brasileira através da ABCA – Associação Brasileira de Cinema de Animação. Com uma carreira marcada pela animação humorística, especialmente adulta, ele também atua em festivais, mostras e palestras sobre animação. Sua filmografia apresenta uma mistura de estilos de animação, um gosto pelo humor nonsense e um traço autoral que se manifesta na imagem animada e também na maneira como os filmes são produzidos: com equipes pequenas e formadas por outros animadores parceiros. Em "Até a China", Marão retrata sua viagem para participar de um festival de cinema na China e o choque cultural resultante dessa experiência. À semelhança de outros documentários animados baseados em relatos de viagem, como o premiado "Madagascar, Carnet de Voyage" (Bastien Dubois, 2010), Marão apresenta o registro de sua vivência através de imagens animadas e da reconstrução de situações vividas, recorrendo também a dubladores. A narração feita em primeira pessoa é realizada pelo próprio autor, o que confere maior autenticidade ao relato. A comicidade está presente no filme, transpondo para a experiência pessoal do realizador o humor que é característico de suas obras. Além de expandir a produção de filmes de humor adulto, "Até a China" marca também a estreia do documentário animado na filmografia de Marão e fortalece a produção desse tipo de filme dentro do grupo de animadores associados à ABCA. O envolvimento desses realizadores com o debate sobre a produção de cinema no Brasil e sua atuação na formulação de editais de financiamento adequados à natureza do trabalho com animação pode ser verificado no edital de produção de curta-metragem da Spcine, lançado em abril de 2016, o qual inovou ao contemplar formatos de ficção e não ficção com técnicas de live action ou de animação. O edital também propõe o entendimento de obra audiovisual de não ficção como obra documental “cuja trama/montagem seja organizada de forma discursiva por meio de sons e imagens e utilização de técnicas de animação e/ou personagens animados” (Spcine: 2016, p.3). Dessa maneira, o edital se diferencia do convencional ao oferecer a distinção entre técnicas de fabricação da imagem – live action ou animação – e considera a distinção entre animação documentária e animação ficcional. Consideramos que essa mudança contribui para uma maior popularização do documentário animado no Brasil, expandindo seu desenvolvimento. Nossa proposta é analisar o filme Até a China relacionando-o com esse contexto atual do documentário animado brasileiro e examinar quais são as perspectivas para o crescimento desse tipo de produção no país, considerando a compreensão de suas particularidades enquanto filme documentário e, ao mesmo tempo, filme de animação. |
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Bibliografia | LEITE, Sávio (org.). Maldita Animação Brasileira. Belo Horizonte: Favela é isso aí, 2015. |