ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | Cutopia - aterrorizando o cinema narrativo |
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Autor | Ramayana Lira de Sousa |
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Resumo Expandido | Cinema, desejo, prazer, sexo são conceitos que formam conexões que afetam o modo como percebemos a sexualidade, seja como expressão “natural" ou como construto social, seja em relação à construção de identidades sexuais (e sua potência e limites políticos). Com Guacira Lopes Louro podemos pensar que "os filmes exerceram e exercem (com grande poder de sedução e autoridade) pedagogias da sexualidade sobre suas platéias” (2008, p. 82). Sem negar essa pedagogia, esta proposta pretende levantar outras possibilidades para entender as conexões citadas acima. Em uma abordagem possível, as imagens de práticas sexuais (explícitas em maior ou menor grau), podem ser vistas como composições de forças e afetos que rearrajam corpos e políticas. A sodomia, palavra cuja origem no Antigo Testamento remete à destruição das cidades de Sodoma e Gomorra, refere-se, de maneira geral, às práticas sexuais que recusam o destino reprodutivo. Nesta proposta, vamos reduzir-lhe o escopo de forma a tratá-la como sinônimo de sexo anal, penetrativo ou não, performado por homens e mulheres, indistintamente. Partindo de uma série de exemplos de cenas de sodomia (de O último tango em Paris e Paixão Selvagem, passando por Amargo pesadelo e Parceiros da noite, a O segredo de Brokeback Mountain, O fantasma, Tatuagem e Deadpool), pretende-se demostrar como a prática sexual atua em duas chaves: em um nível de organização narrativa, trata-se de observar a cumplicidade da sodomia com o fechamento do significado (alinhando-se a um prazer visual que se reduz à escopofilia e à castração) ou, quando pensamos na força performativa dos corpos, o que pode ser percebido é a abertura da imagem que ultrapassa a fixação em identidades e imobiliza os fluxos do corpo. Narrativa, imagem e performance formam, assim, no momento privilegiado do sexo anal, um emaranhado onde o que pode estar em jogo é exatamente a crítica à subjetividade soberana e sua cumplicidade com a redução do ânus a mero tubo excretor, transformando-o em cicatriz da castração, como coloca Preciado (2009, p. 136) Nessa perspectiva que permite ver no cinema uma crítica à noção de sujeito soberano é importante retomarmos a etimologia da palavra soberano, do latim super anus, onde o sufixo anus tem o sentido de proveniência, origem, pertença, nos sugerindo, na homofonia, um ânus que se posta sobre os outros, uma transcendência que nega a materialidade do desejo e aparece como organização edipianizadora e castradora. Em última análise, portanto, queremos explorar essa potência política do sexo anal no cinema narrativo, potência de aterrorizar o fechamento da narrativa e o fechamento do ânus em uma cicatriz onde se lê o trabalho intermitente dos poderes no controle dos prazeres e dos usos dos corpos. |
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Bibliografia | LOURO, Guacira L. Cinema e sexualidade. Educação & realidade. Porto Alegre. Vol. 33, n. 1 (jan./jun. 2008), p. 81-97. |