ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | O menor no documentário: influências da televisão e do Vídeo Popular |
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Autor | Letizia Osorio Nicoli |
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Resumo Expandido | A partir de nossa pesquisa de doutorado sobre a representação da infância no documentário brasileiro no século XXI, propomos esta comunicação, que configura um excerto focado na representação do menor. A partir da análise de filmes que têm como temática a chamada “questão do menor”, identificamos fortes traços já presentes em experiências audiovisuais anteriores a tais filmes. Mais especificamente, interessa-nos demonstrar aqui a influência, presente nesses documentários, de duas experiências pontuais: o programa televisivo Globo Shell/Globo Repórter, da década de 1970, e o Vídeo Popular, das décadas de 1980 e 1990. Trata-se de dois momentos marcantes no audiovisual de não-ficção no Brasil, que seguiam uma tradição de crítica e denúncia de problemas sociais. No entanto, o mais importante desses dois exemplos para nossa pesquisa é o fato de ambos terem produzido títulos dedicados à temática do menor. Dentre eles, destacamos A escola de 40 mil ruas (1974) e Wilsinho Galiléia (1979), de João Batista de Andrade, e Febem – o começo do fim (1990), de Rita Moreira. Uma análise comparativa entre essas empreitadas e os documentários desta última década (exemplificados, nesta comunicação, pelos filmes Falcão, meninos do tráfico e Juízo) sugere três pontos de aproximação entre os títulos contemporâneos e seus antecessores, que buscaremos explorar mais detidamente na comunicação. Em primeiro lugar, a construção da enunciação em todos esses filmes busca valorizar a expressão do(s) menor(es) como sujeitos-enunciadores. Tal valorização teve um importante papel nos filmes de João Batista de Andrade, como o próprio diretor afirmou em entrevista (SOBRINHO, 2012). Tal ideia se coaduna com as discussões propostas por Nichols (2005) quando defende a realização documental como o ato de “dar voz a”. Buscaremos desenvolver as particularidades dessas relações de subjetificação, alteridade e representação em relação ao sujeito “menor”. Outro aspecto que queremos discutir são os procedimentos estéticos adotados por esses documentários, que refletem as peculiaridades de se realizar filmes com sujeitos regidos por uma legislação específica. Aqui cabe salientar que os filmes Falcão (...) e Juízo, ao contrário de seus antecessores, estão submetidos às determinações do Estatuto da Criança e do Adolescente, o que significou a necessidade de proteger a identidade de seus sujeitos. Por outro lado, os documentários de João Batista de Andrade para a televisão tiveram de enfrentar as limitações da censura. Nossa intenção é verificar como procedimentos estéticos marcantes nesses filmes, como a manipulação de imagens e a encenação, relacionam-se diretamente com sua temática e sua abordagem, além de levarem adiante escolhas de seus antecessores, estabelecendo uma espécie de tradição. Por último, é importante verificar como o modo de realização dos filmes da última década (e, mais notadamente, de Falcão, meninos do tráfico) se inspira no modelo de produção do Vídeo Popular, sobretudo no que diz respeito às relações institucionais e à inspiração na tradição de coletivos. É importante ainda ressaltar as relações entre esses documentários e seus contextos históricos, para conjecturarmos as origens das semelhanças apontadas. Retomaremos brevemente o repertório imagético acerca do menor, criado pela imprensa e pelas fontes históricas desde o princípio do período republicano brasileiro, para demonstrar como todos os audiovisuais aqui mencionados buscam romper com tal repertório. Tal rompimento pode ser percebido em todos os três aspectos em que nossa análise se detém. Com isso, reforça-se a estreita relação entre estética e modos de produção e o caráter político de um significativo ramo do documentário brasileiro. |
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Bibliografia | FRONTANA, Isabel C. R. da Cunha. Crianças e adolescentes nas ruas de São Paulo. São Paulo: Edições Loyola, 1999. |