ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | The fourth dimension: uma análise fenomenológica |
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Autor | Gustavo Soranz |
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Resumo Expandido | A proposta deste artigo é apresentar uma análise do filme The Fourth Dimension (2001), dirigido pela cineasta Trinh T. Minh-ha, sob a luz da fenomenologia. Para isso, partiremos da proposta de Vivian Sobchack (1992), que buscou elaborar um método de análise fílmica, com especial atenção ao cinema documentário (1999), inspirado na fenomenologia existencial do filósofo francês Maurice Merleau-Ponty. Para a autora, tal esforço compreende um trabalho de (1992, p. xvii) “descrever e explicar a origem e lócus da significação e do significado cinematográficos na experiência da visão como uma atividade existencial corporificada e significativa.” O trabalho de Sobchack em lapidar uma metodologia de análise fílmica assentada na fenomenologia é reconhecido como um dos marcos na busca por trazer tal doutrina filosófica para fundamentar estudos na área da teoria do cinema, contribuindo para oferecer novas possibilidades epistemológicas para esse campo de estudos. Malin Wahlberg (2008), que realizou um trabalho de revisão das principais propostas teóricas que buscavam tal intento de aproximação, considera que “Sobchack oferece uma teoria modificada que se opõe à doxa metafísica da fenomenologia clássica, enquanto reconsidera a percepção como visão corporificada. Além disso, seu trabalho é uma importante tentativa de apresentar a fenomenologia existencial como uma alternativa para o modelo psicanalítico de espectatorialidade e identificação cinemática. (2008, p.15) Seguindo Sobchack, uma vez que a experiência cinematográfica é corporificada e inserida no mundo, devemos pensar tal fenômeno por dois movimentos complementares: primeiro, como uma experiência de mediação entre consciência e fenômeno. Poderíamos dizer, entre sujeito e objeto. Uma experiência de percepção por parte de um sujeito consciente que sente e experimenta o mundo e cuja manifestação expressiva resulta em matéria fílmica – imagens e sons articulados entre si - que traz esse mundo à existência. Segundo, como uma experiência mediada de recepção, da experiência de perceber o mundo por meio das imagens que nos são apresentadas dele. As imagens visíveis de um mundo tanto quanto a visão elaborada de um mundo. Em termos fenomenológicos esse duplo movimento apresenta os conceitos de noema – os fenômenos da nossa experiência - e noesis - os modos como percebemos e vivenciamos o mundo. Para uma utilização proveitosa da fenomenologia como aporte teórico nos estudos de cinema, que implica pensar em como tais princípios filosóficos podem contribuir para aprimorar nosso entendimento do filme escohido para ser objeto de escrutínio, precisamos ir além das relações que definem a constituição da experiência fílmica segundo Sobchack. É necessário um embate direto com o filme, com sua expressividade e materialidade, a fim de evitar a armadilha da mera abstração teórica que deixa o objeto fílmico ausente da elaboração conceitual. Nossa proposta aqui é a de buscar uma aproximação íntima e detida com o filme The fourth dimension, com sua materialidade, com as estratégias fílmicas adotadas, com o contexto da produção, a fim de realizar uma “descrição fenomenológica densa” desta experiência fílmica. Em particular, nos interessa refletir sobre a expressão do tempo e da temporalidade no filme. Sobre como ele dá dimensão expressiva a diferentes temporalidades imbricadas na experiência da cineasta com o Japão contemporâneo, oscilando de modo tanto sutil quanto complexo entre uma dimensão rural e contemplativa e uma modernidade urbana e pulsante, situando a diretora como sujeito da experiência e do discurso, evidenciando um modo particular de sentir e de estar no mundo, apresentado e modulado pelos meios do cinema em uma reflexão instigante sobre a experiência do tempo e a potência da imagem. Sobre o cinema e o engajamento do sujeito com o mundo. |
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Bibliografia | CHAMARETTE, Jenny. Time and Matter: temporality, embodied subjectivity and film experience. Rethinking subjectivity beyond French cinema. Palgrave Macmillan, 2012. |