ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | Considerações sobre o Trágico – O papel do amor patológico em Vertigo |
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Autor | Daniel Lukan Schimith Silva |
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Resumo Expandido | A conexão que o amor estabelece com a tragédia é um aspecto vastamente trabalhado desde os primórdios do que até hoje conhecemos como ‘narrativa’. De "Medéia", de Eurípedes, até "Anna Kariênina", de Tolstoi, uma gama de histórias já foi contada usando a união dessas duas noções como fio condutor. Essa profusão torna ostensiva a lógica trágica que irrompe em tais enredos; seja por suas características fatídicas ou mesmo pela estruturação. Partindo dessa ideia inicial, o escopo desse trabalho é investigar como o desenvolvimento patológico do amor pontua a estruturação trágica no filme "Vertigo", do diretor Alfred Hitchcock, assim como no romance que lhe deu origem, "Sueurs Froides", de Boileau-Narcejac, publicado quatro anos antes do lançamento do filme ainda com o nome "D’entre les morts". Desde Platão o conceito de amor recebe definições diversas, por exemplo, 'Ágape' e 'Eros'. Para o filósofo grego, essa dicotomia diferencia um amor autêntico (Ágape), que tende a libertar o indivíduo do sofrimento, ou seja, o amor aduzido a um plano divino e altruísta; do amor possessivo (Eros), aquele que é incontrolável e egoísta, no qual o amante persegue o amado como um objeto a ser devorado. Esse amor possessivo é o que domina os protagonistas Scottie (Vertigo) e Flavières (Sueurs Froides) e, em função disso, ambos os personagens atingem os níveis mais altos de patologia amorosa. O que gera como consequência uma intensa busca pela ‘ressurreição’ de Madeleine, sendo que, nessa reconstrução dela enquanto amante, eles acabam por reconstruir todo o cenário da tragédia, na qual deixam de ser meros espectadores, e tornam-se os principais agentes. Portanto, utilizando definições dos estágios do amor patológico (LINO, 2009), propomos investigar como ocorre a gradativa passagem desses protagonistas por cada um desses níveis – paixão, amor obsessivo, dependência amorosa, violência – até seu grau mais elevado: a psicopatia. Para isso, analisaremos o modo como essas categorias estabelecem as peripécias e os reconhecimentos de ambas narrativas e como essas estruturas trágicas também servem como impulso para a passagem desses estágios de amor patológico. Assim, visamos utilizar essas investigações para ponderar sobre como Hitchcock utiliza os recursos visuais particulares ao cinema, seja expandindo ou suprimindo estratégias narrativas existentes, a princípio, no romance de Boileau-Narcejac, para transparecer e dar significado à progressão patológica de Scottie, em "Vertigo". Em vista disso, temos como objetivo mostrar de que maneira a manifestação dessa patologia amorosa se apresenta distintamente no protagonista fílmico e no literário, de modo a estabelecer o diálogo entre as duas áreas e, também, observar como a profusão psicopatológica do amor nesses protagonistas será responsável por modular o paradigma trágico, que será motivador dos ‘destinos’ dessas histórias e inevitabilidade de suas execuções. |
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Bibliografia | ARISTÓTELES. Poética. In: "Coleção Os Pensadores". São Paulo: Abril Cultural, 1978. |