ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | O encontro da palavra em Carolina Maria de Jesus e João Candido |
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Autor | Tallyssa Izabella Machado Sirino Rezende |
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Resumo Expandido | Carolina Maria de Jesus, em Quarto de despejo (1960), cita o almirante negro, João Candido. A partir desta citação, há a criação ficcional do encontro entre os dois, pelo curta-metragem O papel e o mar (2010). No curta, há apenas esses dois personagens, que caminham e discutem sobre suas relações distintas e similares com a palavra: Carolina, com o papel, João Candido com o mar. Carolina foi a escritora das margens que escreveu a partir dela, escrevia em cadernos usados encontrados no lixo que catava para sobreviver. João Candido foi o líder da revolta da chibata, portanto, ambos ocupam um lugar de contestação da posição social que lhes é imposta. Nesse sentido, este estudo pretende refletir sobre as diferentes nuances assumidas pela palavra na ficcionalização literária e fílmica - Quarto de despejo (1960) e O papel e o mar (2010), no que se refere aos modos de engajamento das adaptações. Para tanto, buscamos suporte em Linda Hutcheon (2011): Mas com a travessia para o modo mostrar, como em filmes e adaptações teatrais, somos capturados por uma história inexorável, que sempre segue adiante. Além disso, passamos da imaginação para o domínio da percepção direta, com sua mistura tanto de detalhe quanto de foco mais amplo. O modo performativo nos ensina que a linguagem não é a única forma de expressar o significado ou de relacionar histórias (HUTCHEON, 2011, p. 48). Conforme a autora canadense, a diferença entre a leitura da obra literária e outras mídias que seguem adiante – como é o caso do cinema, é a transição da imaginação para transição direta, de modo que já não é possível abaixar o livro para o colo e refletir sobre como, enquanto leitores, imaginamos determinada cena ou que significação determinada narração terá em nossa reflexão sobre a leitura que fazemos. Mas, qual é o fio condutor para a adaptação? Gilles Deleuze (1989) reforça que, quando se tem uma ideia em cinema, esta ideia é diferente da ideia que se tem em romance – ou literatura, em geral – mas, ao decidir adaptar uma obra literária, um cineasta tem ideias em cinema que fazem eco àquilo que o romance apresenta. No que se refere a O Papel e o mar (2010) e Quarto de despejo (1960), o eco entre as obras é a palavra como contestação e esta relação é construída de forma interrelacionada, porém diferente, nas duas obras. A relação com a palavra é forjada no próprio texto que cada um desses personagens constrói. E ele é um jogo de adivinha ou de esconde-esconde com o leitor, conforme aponta o pai da desconstrução: Um texto só é um texto se ele oculta, ao primeiro encontro, a lei de sua composição e a regra de seu jogo. Um texto permanece, aliás, sempre imperceptível. A lei e a regra não se abrigam no inacessível de um segredo, simplesmente elas nunca se entregam, no presente, a nada que se possa nomear rigorosamente uma percepção (DERRIDA, 2005, p. 7). Esse jogo é trazido também para o modo mostrar - característico do cinema, uma vez que, para Derrida, tudo é texto, no sentido de que tudo é discurso, feito no e pelo discurso. Porém, é a forma como o jogo é construído que será diferente. Considerando, portanto, a escritura um jogo, nele encontramos as personagens que guiam este estudo: Carolina e João Candido; cada qual à sua maneira, em seu jogo textual, como personagens intimamente ligados à palavra que, ora mostram ora escondem suas intenções e relações com o texto e a palavra. Consideramos, ainda, que o texto é um emaranhado de vozes, conforme postula Bakhtin (2002), portanto, tanto a obra fílmica se proveu da ligação proposta pela obra literária, quanto a obra literária, na voz da própria Carolina Maria de Jesus ao retomar a voz de João Candido, em Quarto de despejo (1960). Assim, essas relações rizomáticas serão aprofundadas e questionadas, por meio da análise da construção estética da palavra nas duas obras, considerando a especificidade de seu modo de engajamento. |
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Bibliografia | BAKHTIN, Mikhail Mikhaæilovich. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. Hucitec/Annablume, 2002. |