ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | Horror, Excesso e a Violenta Conformação dos Corpos Femininos |
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Autor | Mariana Ramos Vieira de Sousa |
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Resumo Expandido | Certas narrativas cinematográficas são arquitetadas em torno da espetacularização do sofrimento dos corpos femininos, o que, em alguns gêneros fílmicos como o horror, toma proporções ainda mais excessivas constituindo verdadeiros “espetáculos de vitimização feminina” (WILLIAMS, 1991), cumprindo uma agenda que, muitas vezes, perpassa o “simples” entretenimento, perpetuando discursos violentos de conformação destes corpos. Pensando o horror dentro de sua estrutura genérica, como um conjunto de relações de pertencimento, vemos que a constante determinada como símbolo máximo do mesmo, um dos cânones que definem tal gênero, é o encontro espetacular, “horrorífico” e assustador com um Outro monstruoso e abjeto. Tal encontro causa pulsões e identificações ambíguas em seus espectadores, através da proliferação de espetáculos sensoriais extremos protagonizados por corpos instáveis e perigosos, especialmente corpos femininos “excessivamente sexualizados”; corpos monstruosos que, em seu excesso, ultrapassam regras e normas e, fazendo o, criam fissuras profundas no próprio processo discursivo, narrativo, e põem em cheque a materialização dos padrões corporais e comportamentais vigentes. Para ilustrar tal discussão, me apoiarei na análise comparativa de dois filmes de horror: “Possessão” (1981), de Andrzej Zulanski, e “Em Minha Pele” (2002), de Marine de Van. Em ambos os casos, o corpo feminino capturado dentro de um momento de extremo prazer quando em contato com o monstruoso, é um dos cerne do discurso fílmico. Este corpo que não apenas flerta com o abjeto, mas que obtem um prazer sexual neste encontro, é codificado como monstruoso. Performances extremas de destruição e esfacelamento corporal, filmadas com uma sensualidade perturbadora, dentro de cenas de excesso máximo, trabalhado a partir uma mise en scene em si mesmo histérica, repleta de elementos de horror e abjeção que apenas adensam sensações de desconforto e incerteza, são pontos centrais nas duas obras. Vemos, em ambos os casos, mulheres colocadas como espetáculo, fazendo um espetáculo de/com seus corpos, em cenas performadas diretamente para a câmera. Tais performances excessivas e monstruosas convidam o escrutínio do olhar, chamando a atenção do espectador para algo que, por algum motivo, escapa a trama. O que parece se exibir na tela é uma parada espetacular de sensações que transbordam e excedem a diegese, atrações que pouco nos fala da ação dramática em si, mas que nos interpelam de tal forma que parecem ressoar por todo o filme, complicando seu entendimento. O excesso é, por excelência, aquilo que instiga o espetáculo sensorial, aquilo que chama atenção e convoca a percepção porque não pode ser preso dentro da ordem positivista e prática da função narrativa, tomando, nem que por apenas alguns breves momentos, as rédeas da mise en scène e lhe fazendo explodir em sensações. É através dessas fissuras, dos momentos onde o excesso corpóreo e cinemático explodem em tela e fraturam a narrativa, que transbordam os conteúdos antagônicos que podem nos auxiliar no processo de desconstrução de representações em um espaço de risco e desafio, que, talvez, nos permita traçar um mapa inicial para uma política de resistência para tais corpos. O espetáculo, especialmente o espetáculo do corpo feminino em processo de autodestruição, é exatamente aquela voz que, apesar das pressões externas, das exigências de racionalidade e finalidade narrativa, escapa à normatização e faz de sua presença inesperada o signo último da instabilidade que permeia e constrói o discurso hegemônico. Dessa forma, pensar tais momentos de excesso como espaços de significação que possam nos auxiliar a questionar e desestabilizar as normas que conformam e estigmatizam o corpo, a sexualidade e a própria vivência social feminina, torna-se um imperativo urgente que pretendo averiguar com essa apresentação. |
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Bibliografia | BALTAR, Mariana. “Frenesi da Máxima Visibilidade”. ECompós. 2010. |