ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | "O TERCEIRO MUNDO VAI EXPLODIR!": O CINEMA DE SGANZERLA À LUZ DE FANON |
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Autor | ANNA KARINNE MARTINS BALLALAI |
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Resumo Expandido | Este trabalho é parte da minha dissertação de mestrado, “O ator-em-ato: a dialética ator/ personagem em Copacabana Mon Amour”. O objetivo é investigar a influência do pensamento do psiquiatra e filósofo antilhano Frantz Fanon (1925-1961) no cinema de Rogério Sganzerla (1946-2004), em especial, no longa-metragem Copacabana Mon Amour (1970), realizado no Rio de Janeiro, pela produtora Belair, no contexto da Ditadura Civil-Militar. Num conjunto de documentos localizados em seu arquivo pessoal, Sganzerla declara à propósito deste filme: “Quis fundir Frantz Fanon com o cinema japonês do início da década de sessenta – partir da constatação de dois deserdados da terra sob a autoridade”. Tal proposição remete ao título do livro derradeiro de Fanon, “Os condenados da terra” (Les damnés de la terre), publicado originalmente na França, em 1961, com prefácio de Jean-Paul Sartre. Tal obra teve enorme repercussão nos anos sessenta e setenta pelo seu caráter revolucionário e pela originalidade com que analisa a psicologia do ser colonizado e o papel da violência nos processos de descolonização - violência esta compreendida antes de tudo enquanto linguagem. Sem deixar de reconhecer a dimensão inesgotável de referências teóricas, estéticas e temáticas que podem ser verificadas em Copacabana Mon Amour, e de considerar a representação da própria realidade brasileira, em sua complexidade sócio-político-econômico-cultural e geográfica, este trabalho propõe-se a examinar algumas marcas discursivas que nos permitem indicar pontos de intercessão entre o pensamento de Fanon e o referido longa-metragem. Nossa hipótese é a de que Copacabana Mon Amour pode ser compreendido como uma espécie de adaptação cinematográfica à realidade brasileira do livro de Fanon “Os condenados da terra”, tal a extensão da influência desta obra na composição do filme. Nossa hipótese secundária é a de que a influência do pensamento de Fanon pode ser verificada nos demais filmes da Belair, dirigidos por Sganzerla e por Julio Bressane, e mesmo em filmes anteriores de Sganzerla, como O Bandido da Luz Vermelha (1968), cujo final remete à metáfora da “explosão do mundo colonial”, sugerida por Fanon em “Os condenados da terra”, mas já apontada em “Pele negra, máscaras brancas” (1959). A adaptação do pensamento de Fanon à realidade brasileira em Copacabana Mon Amour se daria a partir de três movimentos: 1º) Compreensão da permanência da situação colonial em países subjugados por regimes ditatoriais e autoritários, como o Brasil, que de 1964-1985 viveu sob um regime antidemocrático. 2º) Verificação da equivalência das relações colonizador/ colonizados nas relações patrão/ empregados (sobretudo nos casos dos empregados domésticos), as quais equivalem, por sua vez, à clássica relação senhor/ escravo que perpassa toda a história da humanidade. No caso do Brasil, a relação patrão/ empregado doméstico, merece ser compreendida como resquício do regime escravocrata e deve ser analisada à luz do tratado de sociologia “Casa-Grande & Senzala”, de Gilberto Freyre. 3º) Defesa da idéia de “descolonização do ser”, isto é, de que a descolonização deve ocorrer também no âmbito da consciência individual, ou seja, a descolonização de mentes e de sujeitos – tese de Fanon em “Os Condenados da terra”. A influência fanoniana no filme de Sganzerla pode ser verificada em diversos níveis de análise: tema, tese e trama. Assim, no tema da descolonização e do subdesenvolvimento; na investigação da psiquê e do comportamento do colonizado nas relações colonizador/colonizados, e dos colonizados entre si, recriadas na composição das personagens e nas situações encenadas; no teor de certos diálogos; na análise do papel da violência no processo de descolonização; na análise do papel da religião na contenção da violência; na tese defendida, como vimos, da “descolonização do ser”, e que é verificada no monólogo final de Sônia Silk, expressando uma nova consciência “liberta na e pela violência”. (FANON, 2005) |
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Bibliografia | BALLALAI, Anna Karinne. O ator-em-ato: a dialética ator/ personagem em Copacabana Mon Amour. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 2014. |