ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | A Cabana de James Benning |
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Autor | Hermano Arraes Callou |
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Resumo Expandido | "No verão de 1843, um mês depois que Henry David Thoreau mudou-se para sua cabana feita à mão no lago Walden, ele passou a manhã (e boa parte da tarde) sentado na frente da porta olhando para fora. Apenas quando o sol desceu pela sua janela ao oeste ele foi lembrado da passagem do tempo. Mais tarde nesse mesmo ano, ele escreveu em Walden: Nenhum método nem disciplina suplanta a necessidade de permanecer sempre alerta. O que é o curso da história, a filosofia, ou a poesia, por mais selecionada que seja, ou a melhor sociedade, ou a mais admirável rotina de vida, em comparação com a disciplina de olhar o que existe para ser visto?' " (BENNING, 2008) Entre 2007 e 2008, James Benning revisitou o mito americano de Henry David Thoreau através de Two Cabins, projeto multimídia que inclui arquitetura, vídeo, instalação e pintura. O ponto de partida do projeto foi a construção pelo próprio artista de duas cabanas nas montanhas da Califórnia, feitas sob o modelo oferecido por duas cabanas icônicas saídas da história moderna e recente da América do Norte. Em primeiro lugar, a cabana de Thoreau, que se tornou mítica pela publicação de Walden em 1854 (THOREAU, 2006), ensaio político-filosófico sobre o experimento de viver isoladamente na floresta, de modo autossuficiente, levado à cabo pelo autor, que transformou-se em um testemunho maior dos valores do individualismo, da liberdade e da vida em meio à natureza próprios ao projeto cultural americano. Em segundo lugar, a cabana de Ted Kaczynski, matemático, anarquista e militante anti-civilização, onde viveu isoladamente durante vinte anos, antes de ser condenado à prisão como “terrorista doméstico”, pela realização de uma série de atentados a bomba contra representantes do desenvolvimento tecnológico e industrial. A reconstrução das duas cabanas por Benning se coloca na fronteira de uma interrogação sobre a utopia e distopia americana, em que duas figuras extremas e ambivalentes da ideia de individualidade e liberdade servem de ponto de partida para uma meditação sobre o destino ecológico, técnico e político da América do Norte. A hipótese que pretende guiar essa apresentação é a de que Two Cabins é um momento autoreflexivo dentro da obra de James Benning, pelo qual pode-se ler retroativamente a sua trajetória, em particular os seus meticulosos estudos de paisagem desenvolvido desde os anos 1970, em filmes de rigorosa estrutura temporal. A revisitação da experiência de vida nos bosques de Thoreau e Kaczynski revelaria, assim, uma reflexão sobre seus próprios procedimentos de trabalho, que transformam a vida em meio à paisagem natural e a experiência da solidão da filmagem em uma revindicação de um política e ética da observação, em um gesto reminiscente dos ícones dos libertarianismos americanos citados. A ideia da visão “como disciplina” (BENNING, 2008), desenvolvida na duração intensiva (BERGSON, 2001) do plano cinematográfico, se transforma em uma investigação sobre como, ao submeter o nosso corpo a outro regime temporal, “os nossos sentidos se tornam mais aguçados com o que existe ao nosso redor” (BENNING, 2005), revelando a “paisagem como uma função do tempo” (BENNING, 2004). O método de observação paciente e solitária dos ritmos naturais e industriais, geológicos e humanos da paisagem praticado por Benning é herdeiro da “política da solidão” de Thoreau (AULT, 2011), encarnando a ambivalência de certo ideário americano nos seus próprios procedimentos artísticos, reescrevendo-o sob o signo da atual crise socioambiental da América. Pretendemos, deste modo, analisar Two Cabins dentro da obra cinematográfica de Benning, privilegiando suas duas vídeoinstalações, que estudam a paisagem no qual a cabana está inserida e atualizam as preocupações fílmicas do artista no contexto das artes. |
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Bibliografia | BENNING, James. Life is finite. Wexner Center for the arts blog, 2008. Disponível em: http://wexarts.org/blog/more-voices-filmmaker-james-benning. Acesso em: 15 de outubro de 2015. |