ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | A vida na|da imagem: o 'espaço cinematográfico' no ensaio audiovisual |
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Autor | Arthur Fernandes Andrade Lins |
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Resumo Expandido | Em 2015, o cineasta portugues Manoel de Oliveira morre aos 106 anos de idade e encerra a mais longa carreira de um cineasta na história do cinema, que durou 88 anos. Após sua morte, o seu filme-testamento realizado em 1982 foi finalmente exibido: ‘Visita ou Memórias e confissões’, único filme exibido em 35mm no festival de Cannes do ano passado. Em 2014, o documentário do português Manuel Mozos “João Bénard da Costa: Outros Amarão as coisas que eu amei”, também nos chama a atenção pelo caráter recém póstumo do personagem central de seu filme, o crítico, ensaísta, cinéfilo e ex-diretor da cinemateca portuguesa. Segundo o crítico João Limeira (À pala de Walsh, 2015), o filme ‘é menos uma biografia de uma figura importante do que o luto pela morte de uma pessoa amada. Mais precisamente, é a (tentativa de) ressureição do seu espírito. Um milagre do cinema, a vida para além da vida’. Estes dois filmes recém exibidos/vistos nos leva a um terceiro: ´As I Was moving ahead occasionally I saw Brief glimpses of Beaty´, a obra-prima de quase 5 horas de duração realizado por Jonas Mekas em 2000, composto por imagens captadas ao longo de 30 anos. Não se tratam de documentários biográficos ou auto-biográficos, que pretendem dar conta da totalidade de uma vida, ou mesmo do filme-diário, ainda muito atrelado a uma subjetividade, a um discurso interior que organiza as sensações e percepções do cotidiano. Em seus diversos aspectos estéticos-narrativos, estes filmes se impõem por gestos reflexivos que desorganizam a cronologia dos fatos, a lucidez da memória, os limites entre o real e o imaginado, a experiência vivida e a imagem projetada na tela. Em certa altura de seu filme, Jonas Mekas reflete sobre suas imagens em uma voz over que comenta o processo aleatório da montagem fazendo uma analogia a banalidade e aleatoriedade da vida. “É só o tempo, o tempo passa, o tempo passa, assim como este filme passa pela entrada do projetor”. Neste casos, estamos mais perto de um ensaio audiovisual, por sua grande liberdade formal e pelo seu aspecto de pensamento ‘ao vivo.’ De acordo com Gabriela Machado e James Guterres, nos estudos que vinculam o “documentário ao ensaio no cinema, este último é visto como uma alternativa muito mais livre, criativa, profunda e até honesta, já que o cineasta não busca chegar a respostas ou afirmar verdades pretensamente universais sobre os temas tratados nos filmes, de modo que ficam expostas na obra as suas próprias questões e conflitos, o seu próprio caminho por vezes tortuoso” (2011). Seguindo este norte teórico pretendemos nos aproximar do pensamento do escritor e filósofo francês Maurice Blanchot, a partir de seu pensamento radical sobre a auto-suficiência do espaço literário, a palavra plural e os limites comunicativos da linguagem. Para Blanchot, “a obra - a obra de arte, a obra literária – não é acabada nem inacabada: ela é. O que ela nos diz é exclusivamente isso: que é – e nada mais. Fora disso, não é nada. Quem quer faze-la exprimir algo mais, nada encontra, descobre que ela nada exprime” (1987). São filmes que existem enquanto imagens suspensas no tempo. Não exibem o passado, mas sim o presente incessante e infinito da produção de textos e sentidos. Jonas Mekas nos alerta, está tudo nas imagens, é preciso ler/ver. Ao lado das imagens, a voz, procedimento estético fundamental no ensaio audiovisual, que aqui, recebe tratamento criativo e ficcional. Em 'Visita', duas vozes comentam as imagens como fantasmas que visitam escombros de uma vida que não mais lhes pertencem. Em ‘João Benard da Costa', é o seu filho que narra o filme e lê as cartas de seu pai. É na crença de que estes filmes apontam uma intensa relação entre o ensaio audiovisual e o pensamento blanchotiano, que pretendemos descortinar um possível espaço cinematográfico. |
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Bibliografia | ADORNO, Theodor. O Ensaio como Forma. São Paulo: Editora 34, 2008. |