ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | Do corpo filmado ao corpo que filma Rowlands/Cassavetes Ogier/Rivette |
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Autor | Maria Leite Chiaretti |
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Resumo Expandido | Nossa análise dará ênfase a dois filmes realizados por John Cassavetes e protagonizados por Gena Rowlands: “Faces” (1968) e “Uma mulher sob influência” (1975); e a dois outros filmes de Jacques Rivette cuja protagonista é Bulle Ogier: “Amor Louco” (1969) e “Pont du Nord” (1981). Apesar de as atrizes terem participado de outras obras de seus respectivos cineastas, acreditamos que estas são momentos exemplares de colaboração que acabam por demonstrar a ambição de um projeto cinematográfico compartilhado por eles: a de confrontar e reencontrar o mundo através da improvisação como método criativo. Apesar de Cassavetes e Rivette serem constantemente vinculados historicamente a movimentos cinematográficos distintos, o Cinema Underground de um lado e a Nouvelle Vague Francesa de outro, os cineastas não são típicos representantes dos mesmos, criando cada um, a seu modo, um estilo cinematográfico original que tira partido do ato de criação integralmente compartilhado com os atores para realizar filmes cuja potência reside justamente libertação dos corpos refletida em desdobramentos originais, tanto do ponto de vista da narrativa, quanto da plasticidade. É importante lembrar que todos os estes filmes estudados pertencem a um tipo de cinema narrativo em que a questão da corporeidade das formas se impõe. Nos interessa aqui investigar comparativamente os processos de criação dos cineastas e seus métodos específicos afim de instaurar um jogo junto aos atores que contribua para que os filmes sejam atravessados pela contingência do real. Como diria Gilles Mouellic, neste cinema dito improvisado cada decisão tomada durante o processo de criação parece destinada a liberar no set forças imprevisíveis, a fazer de cada tomada um acontecimento em si e não a representação de uma cena. Esta relação com o presente implica em temporalidades singulares, possibilidades originais de viver o tempo, a atuação do improvisador, esteja ele diante ou atrás da câmera, se desdobrando no interior de uma temporalidade lábil em que o instante prevalece. É sabido que há em Cassavetes e em Rivette um apreço pelo trabalho em equipe, uma propensão a transformar seus colaboradores em uma família e uma necessidade de convocar atores e técnicos para participarem ativamente do ato de criação. Privilegiar esta noção também nos permite focalizar um elemento fundamental da poética de ambos os cineastas: inserir o trabalho do ator no centro da criação cinematográfica. Nesse sentido, levaremos em conta, ao tratarmos de improvisação no campo cinematográfico, as noções de performance, de teatralidade e de apelo coreográfico essenciais para o resultado da inscrição dos corpos nos filmes. A partir das formulações dos autores citados na bibliografia, daremos a devida atenção, na construção das análises, aos novos ritmos, movimentos e energias desencadeados pelos corpos das atrizes que desembocarão em fenômenos de transbordamento refletidos na montagem. Por fim, nesta análise partiremos da inconstância amorosa, tema estruturante da maioria destes filmes, para demonstrar como tal inconstância acaba por contaminá-los formalmente. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. Le cinéma et la mise en scène. Paris: Armand Colin, 2010. |