ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | Cristologias heterodoxas em Luis Buñuel e Glauber Rocha |
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Autor | Mateus Araujo Silva |
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Resumo Expandido | Entre 1962 e 1971, Glauber Rocha aprofunda sua relação com o cinema de Luis Buñuel, que deixa traços fortes em sua visão do cinema mundial e em seu próprio trabalho de artista. Depois de se familiarizar com os filmes do espanhol em 1962, ele profere em 1963 uma conferência sobre eles que serve de base a um primeiro ensaio, "Nosso Senhor Buñuel", publicado no mesmo ano. Em outubro ou novembro de 1964, no México, ele encontra pela primeira vez o cineasta espanhol, em cujo filme Simon del Desierto (1964) faz uma ponta na sequencia final. Dois anos depois, publica um segundo ensaio de fundo, "A moral de um novo Cristo", no qual o cinema de Buñuel aparece como preparação da figura cinematográfica do Cristo pasoliniano, ambos prefigurando um cinema liberado do terceiro mundo. Terra em Transe propõe logo em seguida, entre outras coisas, um remake muito próximo de La Fièvre monte à El Pao (Buñuel, 1959), pouco antes de um segundo encontro pessoal, bem mais intenso, dos dois cineastas, no Festival de Veneza de 1967, que redundou num terceiro texto de Glauber. A continuação de Terra em Transe em Cabezas Cortadas (1970) traz atores e locações que voltam a remeter diretamente a Buñuel, cuja presença tambem parece forte no segundo grande manifesto teórico de Glauber, "A Estética do Sonho” (1971), que tem como horizonte filosófico um ataque frontal ao caráter opressivo da razão burguesa. A presença constante e inequívoca de Buñuel neste trajeto glauberiano acima esquematizado convida a um reexame do seu papel na teoria da cultura do Glauber maduro, cristalizada no vasto painel de A Idade da Terra (1980), com sua dramaturgia baseada em quatro versões de um Cristo brasileiro (índio, negro, militar e guerrilheiro). Nos limites estritos de uma exposição breve, à luz dos textos elencados na bibliografia e também de trechos brevíssimos e/ou de fotogramas dos dois cineastas (de L’Âge d’Or, 1930; Cela s’appelle aurore, 1955; Nazarin, 1958 e La Voie Lactée, 1968 para Buñuel; de Deus e o Diabo, 1964; Terra em Transe, 1967; Vent d'Est [Godard e Gorin, 1969] e A Idade da Terra, 1980, para Glauber), a comunicação procederá a este reexame, concentrando-se na discussão das cristologias heterodoxas que marcam o cinema de ambos, e de duas outras convergências que lhes são solidárias: 1. A profanação de figuras, ritos e situações religiosas em geral (a partir de uma formação jesuítica em Buñuel, e de uma formação protestante em Glauber) 2. A valorização de uma dimensão irracional, ou extra-racional, da cultura e da vida social. |
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Bibliografia | 1. Araújo Silva, Mateus. "Godard, Glauber e o Vento do Leste, alegoria de um desencontro". Devires, Vol.4,n.1, jan-jun 2007, p.36-63 |