ISBN: 978-85-63552-21-1
Título | Cinema e literatura: a adaptação literária enquanto espaço de memória |
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Autor | MARCELA DUTRA DE OLIVEIRA SOALHEIRO CRUZ |
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Resumo Expandido | A relação entre cinema e literatura é permeada por inúmeros debates nos seus respectivos campos teóricos. Entendemos que parte dos diálogos travados acerca da interação entre essas as artes se dá através de questionamentos sobre as suas possíveis reminiscências, no que tange a busca da compreensão sobre permanências e apagamentos, assim como manutenções e descartes. Este artigo surge, então, como momento preliminar da elaboração de uma base teórico analítica que nos permita abordar as possíveis operações de memória que são geradas nesse contexto. O questionamento que propomos é, portanto: de que forma a construção midiática em torno de um cânone, através de produtos audiovisuais que se referenciam e se citam, influencia a memória cultural circulada de um cânone? E, posteriormente, quais as consequências desses processos nessa memória, no caso específico dos produtos contemporâneos da obra de Jane Austen? John Ellis propõe, em seu artigo A adaptação literária, (1982), que o produto audiovisual oriundo do processo adaptativo de um romance fonte deverá dialogar com o conhecimento cultural difuso do cânone – a sua memória cultural circulada – objetivando a atualização do universo de referências imagéticas preexistente desta memória com as imagens que oferece. Assim fazendo, o audiovisual estaria acrescentando camadas de profundidade à memória deste romance. Trataremos, neste trabalho, a memória como a interação lúdica entre passado, presente e futuro. Pretendemos demonstrar que ela não se trata apenas de algo que se isola num tempo passado e sim de um importante artifício que permite a construção narrativa da obra de um cânone literário em um intenso dinamismo criativo que redundará na produção de referências e citações em espiral. Para sustentar nossa hipótese e embasar os conceitos propostos por nós neste artigo, relacionamos memória e narrativa a partir da Tríplice Mimese de Ricouer (1994). Nesse sentido, procuramos dialogar com Wolfgang Iser (1979) e o seu conceito de repertório do Leitor implícito, no que tange a sua potência atualizadora. Iser propõe que no momento da experiência de leitura o sujeito concretiza o diálogo subjetivo entre o seu repertório (de ordem social, histórica e cultural), e o texto. A interpretação deste texto, portanto, será oriunda da interação entre o seu arcabouço de conhecimento e o texto lido. O repertório deste leitor, formado a partir de suas referências, é gerado a partir de dinâmicas subjetivas de memória que selecionam o que é pertinente para aquela interlocução. Entendemos que o processo que se dá na ocasião da experiência do espectador audiovisual, também na esfera da memória, assemelha-se ao proposto por Iser. A experiência de recepção encharca os sujeitos de referências audiovisuais, tornando-se leitores intermidiáticos, em acordo com Adalberto Müller em Linhas Imaginárias (2012). Ainda neste contexto, propomos que as adaptações audiovisuais realizam sua interlocução com informações prévias deste cânone – com a sua memória cultural circulada – assim, relacionando-se mais intimamente no contexto desta memória mais difusa preexistente, na qual o espectador está inserido. Dessa forma, a sua experiência de recepção, entremeada por referências audiovisuais, será de suma importância para a articulação midiática desta memória e, consequentemente, para a sua permanência neste universo de trocas, que chamamos de espiral de referências. Posteriormente, ela será instrumental na sua produção de conteúdo, inserindo o leitor em um contexto de participante e contribuinte da concepção do cânone com o qual estabelecerá laços referenciais. Podemos dizer, então que esses sujeitos fruíram do prazer do texto literário e, ao se deparar posteriormente com referências e citações presentes em produtos audiovisuais, fruíram também do prazer do reconhecimento, só possível a partir de uma operação memorável. |
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Bibliografia | ELLIS, John The literary adaptation. Screen 23 (Maio-Junho): 3-5, 1982 |