ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Azov Films: divergências sobre a nudez masculina púbere no audiovisual |
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Autor | João Paulo Lopes de Meira Hergesel |
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Coautor | Carolina de Oliveira Silva |
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Resumo Expandido | Azov Films foi uma produtora de conteúdo audiovisual, comandada por Brian Way, famosa por utilizar garotos na puberdade como protagonistas de seus filmes. Além de produzir filmes com a temática coming-of-age, isto é, focado na transição entre a infância e a adolescência, ainda atuou como distribuidora da Award Films International, da Europa Sun Productions e da Baikal Films. A grande polêmica envolvendo essas obras está no fato de que os atores apareciam completamente nus na maioria das cenas. Tais produtos, vendidos como documentários naturistas, ainda são carentes de estudo científico; no que há, as considerações se divergem. Para John Havran (2011, p. 18-19), por exemplo, os vídeos ajudaram a encontrar um outro grupo de espectadores, e a Azov Films apresentou-se como uma produtora de filmes de família, filmes sobre adolescência, filmes com uma temática naturista. No entanto, para James E. Bristol (2006, p. 3), esses filmes representam apenas um grande número de imagens em movimento que não só favorecem a sexualidade infantil, mas ilustram uma linha elusiva e controversa entre a expressão livre e a exploração. Em defesa à produtora, Warren Binford et al. (2015, p. 118) comentam que os filmes comercializados pela Azov Films não incluíam atos sexuais explícitos e por isso não cumpriam os padrões de pornografia infantil em algumas jurisdições. Já para Rebecca Sullivan e Alan McKee (2015, [s.p.]), Brian Way foi o operador de uma empresa de produção e distribuição de filmes que ganhou cerca de US$ 4 milhões com o tráfico de material de abuso infantil, até sua prisão em novembro de 2013. Com uma audiência inespecífica, as ações da produtora contextualizam uma narrativa em caráter global, envolvendo América do Norte (local de administração) e Europa (território de filmagem) diretamente. Mediante a ideia de Jean-Pierre Esquenazi (2007, p. 121), de que o filme é um processo social específico, cabe perguntar: esses produtos poderiam de fato se classificar como documentários, considerando inclusive as questões éticas e políticas que as imagens são capazes de suscitar? Para isso, em diálogo a proposta de Carlos Pérez Reyna (2014, p. 695) sobre analisar filmes pela ótica da antropologia em conjunto com a do cinema, acredita-se na estilística como metodologia para investigação da problemática aqui levantada. Partindo dos estudos de David Bordwell (2008, p. 59) acerca das qualidades expressivas no audiovisual e unindo-se à proposta de Mauro Rovai (2009, p. 102) sobre entender o contexto social com base nos recursos técnicos, aplica-se o olhar a alguns produtos (ainda acessíveis na internet, por ferramentas de compartilhamento de arquivos). As incógnitas sobre o assunto se concretizaram após a leitura a respeito de documentário-ficção, uma vez que, nas palavras de Marcius Freire (2007, p. 61) sobre o subgênero, a ideia de participante “retirado do seu cotidiano sociocultural imediato e envolvido numa situação extra-ordinária, ou seja, uma situação desvinculada de sua vida quotidiana” reflete a atuação dos garotos envolvidos nos registros. Tal referência instiga a refletir, ainda, sobre o caráter de voyeurismo implicado nas obras aqui abordadas. Com uma ferramenta chamada Wayback Machine (http://archive.org/web/), que armazena o cache de mais de 270 bilhões de páginas eletrônicas, tornou-se possível acessar o conteúdo das páginas já extintas, como o site oficial da Azov Films (http://www.azovfilms.com) e a enciclopédia BoyWiki (https://www.boywiki.org). Portanto, além das reflexões sobre estilo e implicação social, esta pesquisa porvindoura propõe um resgate no histórico da produtora, bem como do trâmite legal que a circunvolve, configurando-se como o primeiro material de cunho acadêmico em língua portuguesa sobre o assunto. |
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Bibliografia | BINFORD, W. et al. Beyond Paroline. Children’s Legal Rights Journal, v. 35, n. 2, p. 117-162, 2015. |