ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | E o desenho animado foi à Bienal de Veneza |
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Autor | Annateresa Fabris |
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Resumo Expandido | O visitante do pavilhão austríaco da 55ª Bienal de Veneza (2013) deparava-se com uma surpresa: a projeção de um singelo desenho animado, protagonizado por um burro e um pássaro, que retomava a melhor tradição dos estúdios Disney nos anos 1930 e 1940. Passada a surpresa provocada pelo curta-metragem simplório, cuja duração não ultrapassava os 3 minutos, o público mais avisado percebia que a chave de acesso à proposta conceitual de Mathias Poledna residia no segundo espaço da instalação. Nela, o artista visual havia agrupado todo o processo de produção do desenho animado – layouts, esboços, telas de fundo pintadas a guache e células de animação. Além disso, um cartaz apresentava o elenco dos participantes da operação, como que para lembrar aquela “ordem coletiva”, que tinha impressionado Serguei Eisenstein quando de sua visita aos estúdios Disney em 1930. A operação de Poledna, no entanto, vai além de Disney, abarcando outros aspectos da indústria norte-americana do entretenimento. É o que demonstra a título da animação, “Imitation of life”, que remete ao romance homônimo, de autoria de Fannie Hurst (1933), do qual foram derivados os filmes de John M. Stahl (1934) e Douglas Sirk (1959). É o que demonstra também a canção interpretada pelo burrinho, “I’ve got a feeling you’re fooling”, composta em 1935 por Arthur Freed e Nacio Herb Brown e incluída na trilha sonora do filme “Broadway Melody of 1936” (1935), dirigido por Roy Del Ruth e interpretado por Eleanor Powell e Robert Taylor. É o que demonstra por fim o traje de marinheiro vestido pelo burro, que não evoca apenas o Pato Donald, criado em 1934, mas também películas como “The navigator” (“Marinheiro por descuido”, 1924), dirigida e interpretada por Buster Keaton, “Star spangled rhytm” (“Coquetel de estrelas”, 1942) e “On the town” (“Um dia em Nova York”, 1949), cujos personagens principais eram defendidos por Gene Kelly, Frank Sinatra e Jules Munshin. As diferentes camadas de significado que podem ser associadas ao curta-metragem ganham uma dimensão particular se a elas for aplicada a reflexão de Max Horkheimer e Theodor Adorno sobre os primeiros desenhos animados como portadores dos direitos da fantasia contra o racionalismo, em virtude do desprezo da lógica, da “segunda vida” concedida aos animais e às coisas, e de uma ideia de divertimento não baseada na “ferocidade organizada” e no “esfacelamento de toda resistência individual”. |
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Bibliografia | EISENSTEIN, Serguei. “Walt Disney”. Belval: Éditions Circé, 2013; HORKHEIMER, Max: ADORNO, Theodor W. A indústria cultural: o iluminismo como mistificação de massa. In: LIMA, Luiz Costa (org.). “Teoria da cultura de massa”. Rio de Janeiro: Saga, s.d.; POLIDORO, Federica. L’asinello e l’uccellino. Per una lettura iconografica del cartone di Mathias Poledna. Disponível em . Acesso: 27 fev. 2017; SOCHA, Eduardo. Política de cartoon. “Cult”, São Paulo, ano 19, n. 218, dez. 2016, p. 54-57. |