ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Luzes, sombras, corpos: a fotografia de narrativas televisivas negras |
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Autor | Marina Cavalcanti Tedesco |
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Coautor | Emília Silveira Silberstein |
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Resumo Expandido | Queen Sugar é uma série televisiva criada por Ava DuVernay e que teve sua primeira temporada exibida em 2016 no Oprah Winfrey Network. Conta a história de duas irmãs e um irmão que, junto com o restante família, se reúnem para reativar a plantação de cana-de-açúcar do pai recém-falecido. Passa-se na Louisiana é é baseada em livro homônimo de Natalie Baszile. Insecure, criada por Issa Rae e Larry Wilmore e que foi ao ar no mesmo ano pela HBO, é uma comédia sobre as experiências da mulher negra contemporânea. Seu foco recai principalmente em questões relacionadas a carreira e relacionamentos e tem como protagonistas as amigas de longa data Issa e Molly, moradoras do sul de Los Angeles. Apesar de todas as diferenças narrativas que ficam evidenciadas na breve descrição acima, alguns aspectos as aproximam. Em primeiro lugar, a forte presença de mulheres negras na criação das duas produções. Em segundo, a vontade de DuVernay e de Rae de levar à televisão histórias onde pessoas negras, e em especial mulheres negras, estivessem no centro. Segundo Rae, “eu só queria que fosse uma história comum sobre pessoas negras” (VOX, 2016), expressando seu desconforto não apenas com a sub-representação, mas com uma representação que, quando ocorre, torna negras e negros personagens-tipo. Não são pessoas vivendo suas vidas como as personagens brancas, e sim representantes de todo um povo. DuVernay, além de desenvolver mais os dramas das irmãs Nova e Charley Bordelon e de sua tia Violet, também considerou gênero e raça na própria montagem da equipe. Sua opção por contratar apenas diretoras mulheres teve bastante repercussão, chegando a influenciar a série Jessica Jones, que já anunciou que na próxima temporada terá apenas diretoras mulheres. “Todas elas fizeram longas-metragens antes, mas à maioria delas nunca foi permitido — permitido pela 'indústria', diz ela — dirigir um episódio de televisão. Todas elas tentaram, relata, tendo encontros e metendo o pé na porta. 'Elas tiveram filmes estreando em Berlin, Venice, SXSW, Sundance, e não podem fazer um episódio de TV. É assim que funciona se você é uma mulher. Isso é tão ridículo'” (THE DAILY BEAST, 2016). No que tange à fotografia cinematográfica, podemos identificar que Queen Sugar e Insecure desestabilizam suas técnicas e tecnologias hegemônicas pela cor da pele de atrizes e atores que estão em frente às câmeras, pelo projeto político presente na criação das narrativas e pelos roteiros que são filmados. Sobre as técnicas e tecnologias, “pode ser – e certamente é – verdade que o aparato da fotografia e do cinema parece funcionar melhor com pessoas de pele mais clara, mas isso ocorre porque eles foram feitos para isso, e não porque não poderia ser de outro jeito” (DYER, 1999, p.90). Considerando isso, não surpreende que a pele negra se torne um “problema” nos depoimentos e textos dos fotógrafos. E mesmo quando a ideia é demonstrar que ela não demanda nenhum tratamento fotográfico diferente da branca o racismo aparece através de tratamentos “científicos”, que nunca são destinados aos brancos, e da exotização. As duas visões vão de encontro ao projeto político de DuVernay, Rae e Wilmore. Por fim, é preciso lembrar que na imensa maioria dos audiovisuais ficcionais dos anos 1920 em diante trabalha-se com uma fotografia dramática, ou seja, maneja-se a luz – e os demais elementos fotográficos – de modo que ela seja “expressiva, retórica: dramatizada, psicologizada, metaforizada e eletiva. Que participe de um sentimento e de um sentido pleno e transparente (óbvio), ao contrário do mundo... Luz conotada, codificada” (D’ALLONNES, 1991, p. 7). Portanto, roteiros diferentes poderão significar fotografias diferentes. Assim, coloca-se como relevante para o campo dos estudos em direção de fotografia procurar compreender em que medida e como houve em Queen Sugar e Insecure um rompimento com a lógica racista que vem embasando os saberes e as práticas da cinematografia desde o seu surgimento. |
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Bibliografia | D’ALLONNES, Fabrice Revault. La lumière au cinema. Paris: Editions Cahiers de cinema, 1991. |