ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Cinema, sociedade e emoções: revisitando o amor hollywoodiano |
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Autor | Túlio Cunha Rossi |
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Resumo Expandido | Este texto revisita resultados de minha pesquisa de doutorado realizada no período de 2009 a 2013 e publicada em 2015 sob o título: Uma Sociologia do amor romântico no cinema: Hollywood – anos 1990 – 2000 (ROSSI, 2015). Em relação à discussão desenvolvida anteriormente, é aprofundada a temática de gênero no sentido de apontar como a construção de referenciais de normas comportamentais a respeito da afetividade e dos sentimentos são, em seus aspectos mais básicos, formuladas a partir de diferenciações primárias de gênero, assumidas como naturais. Para tanto, promovem-se diálogos entre a tese e estudos de gênero focados na construção de imagens do feminino. Mais especificamente, questiona-se, em profundidade, a construção social de referenciais para a vida amorosa e a participação do cinema hollywoodiano na difusão de discursos, imagens e modelos de realização pessoal. A pesquisa teve como principal objeto de análise prescrições, modelos e ideais de amor romântico presentes em filmes hollywoodianos, enquanto construções sociais e históricas, entendendo que o cinema de grande público teria, ao longo do século XX até hoje, contribuído de forma significativa com essas construções. Seguindo a metodologia de análise sociológica de filmes de Pierre Sorlin (1982), foram estudadas cinco produções: Uma linda mulher (Pretty Woman, 1990); Sintonia de amor (Sleepless in Seattle, 1993); Titanic (1997); Closer (2004); O amor não tira férias (The Holiday, 2006). Observaram-se construções recorrentes do “amor ideal” sobrevalorizando não apenas seu aspecto imaginário, mas, principalmente, sua relação metalinguística e citacional com imaginários próprios do cinema hollywoodiano. Concordando que “A vida afetiva [...] é ao mesmo tempo imaginária e prática” (Morin, 1972, p.12), debateu-se como este cinema contribui para constituir modelos específicos de realização amorosa, enquanto parte de um referencial de posturas e valores específicas em relação às emoções. Além de estudos em sociologia do cinema, mobilizaram-se referências importantes em sociologia das emoções (Shields, Cancian, Solomon et al.) e outras que também problematizaram mais especificamente amor e romantismo (Beck, Beck-Gernsheim; Campbell; Chaumier et al.). Adotou-se uma abordagem compreensiva do amor enquanto “significação”, enfatizando seu caráter de atribuir sentido específico a sentimentos, experiências e relações íntimas e, a partir disso constituir expectativas e projetos de vida correspondentes conforme normas culturais de relacionamento referentes a como, o quê e por quem sentir. Nesse sentido, a presente comunicação se debruça mais especificamente em duas questões: a primeira, referente a como estudos relacionados à afetividade nas ciências sociais ainda tendem a análises prioritariamente feministas e/ou queer, revelando, mesmo na academia, uma leitura gendrada sobre emoções que, nem sempre oportunamente, é diluída na militância, afastando-se de qualquer proposta metodológica de sistematização e questionamento reflexivo das análises. A segunda, mais associada ao estado contemporâneo do trânsito de imagens a partir de mídias digitais conectadas à rede mundial de computadores pelos mais variados dispositivos que, não somente promove relações diferenciadas com imagens cinematográficas para as novas gerações, como também oferece um aporte para a incorporação de referências fílmicas (seja fotogramas, excertos, citações) como parte da linguagem e expressão de usuários de redes sociais. Por fim, propõe-se uma reflexão sobre a relevância das mídias audiovisuais contemporâneas – com destaque para o cinema e suas conexões com outras mídias, especialmente as digitais – na socialização de valores, crenças e posturas relacionados às emoções. Intenta-se, assim, lançar luz sobre desdobramentos teóricos e analíticos, bem como aportes metodológicos para leituras sociológicas da constituição de emoções nas sociedades contemporâneas a partir de suas imagens e de sua repercussão no cinema. |
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Bibliografia | BECK, Ulrich & Elisabeth. The normal chaos of love. Cambridge: Polity, 2002 |