ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Performances musicais em filmes de Godard, Truffaut e Rohmer - anos 60 |
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Autor | Luíza Beatriz Amorim Melo Alvim |
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Resumo Expandido | Este trabalho faz parte da pesquisa iniciada em 2013 sobre a música preexistente do repertório clássico em filmes dos anos 50 e 60 de diretores que participaram da chamada Nouvelle Vague francesa. Neste recorte, analisamos as performances musicais diegéticas contidas nos filmes Weekend à francesa (Jean-Luc Godard, 1967), A noiva estava de preto (François Truffaut, 1968) e Minha noite com ela (Éric Rohmer, 1969), considerando aspectos como: o modo de inserção de tais performances na diegese do filme, o tipo de mise-en-scène empregado e a relação ou não com um certo “efeito de real”, além de discutirmos os próprios conceitos de “performance”, “mise-en-scène” e “efeito de real/impressão de realidade”. Mise-en-scène (na tradução, “encenação”, palavra que vem originalmente do campo do teatro), por exemplo, foi considerada por teóricos de cinema como Jacques Aumont e David Bordwell, porém, sem levarem em conta o aspecto da presença da música e do som. Para Bordwell (2008, p.33), mettre-en-scène “implica dirigir a interpretação [performance], a iluminação, o cenário, o figurino etc”. A música só aparece como elemento importante da encenação numa definição de Veinstein, do campo do teatro (apud PAVIS, 2008, p.122). O que dizer, então, quando a música é um dos elementos-chave da sequência, como naquelas em que há uma performance diegética em evidência? Pavis (2010) observa que o termo performance vem do antigo francês parformer, no sentido de realizar uma façanha. Stricto senso, a performance se refere a algo que se faz ao vivo, como depreendemos da definição de Zumthor (2007), porém, a recepção, o ato de ver e escutar não deixa de estar presente nessas performances gravadas. Nos casos das três performances analisadas, duas são realizadas por músicos profissionais (em Minha noite com ela e A noiva estava de preto) e uma, por um pianista amador (Paul Gégauff). Seria a presença desses músicos um “efeito de real” no sentido barthesiano? Porém, na definição de Barthes, o “efeito de real” é um detalhe supérfluo, com um valor funcional indireto, e é difícil sustentar que as escolhas de tais intérpretes para essas sequências tenham esse caráter supérfluo, especialmente naquelas, como em Minha noite com ela e Weekend à francesa, em que a performance musical ocupa grande parte da sequência e é colocada em evidência. Teóricos de cinema partiram do conceito “efeito de real” e o desenvolveram. Para Aumont e Marie (2003), ele está ligado à crença do espectador (ele crê que o visto é passível de existir no real), enquanto o “efeito de realidade” é produzido pelos indícios de analogia, que são historicamente convencionais. Para Julier, o “efeito de real” é “uma boa imitação” apresentada pelo filme, enquanto a “impressão de realidade” se refere à vontade do espectador de estar no filme. Em A noita estava de preto, observamos que, apesar do apelo realista da performance com músicos profissionais, Truffaut a monta em planos curtos e alternados com o que é o verdadeiro objetivo da sequência: o encontro do personagem Coral com a misteriosa mulher que lhe enviara o convite para o concerto. Perde-se até mesmo o sincronismo som-imagem em favor do turbilhão de sentimentos do personagem. Ou seja, a narrativa está acima de qualquer proposta realista. Mesmo em Minha noite com ela, em que a câmera de Rohmer se detém em plano fixo no violinista e no pianista, Gorbman (1987) observa que, embora ressaltando os “códigos musicais puros”, a sequência não deixa de estar submetida à narrativa, pois a mise-en-scène nos leva a considerar esse plano fixo como a visão do protagonista na plateia do teatro, afirmação com a qual não concordamos por causa da própria mise-en-scène. Já em Weekend à francesa, o amadorismo de Gégauff está reforçado pela (baixa) qualidade estética da execução, evocada na própria fala do personagem. Sendo a sequência um longo travelling, a performance em si só às vezes está enquadrada, embora o som chame bastante atenção para ela. |
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Bibliografia | AUMONT, J. O cinema e a encenação. Lisboa: Texto e Grafia, 2008 |