ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | O filme-ensaio como acontecimento em Ex-Isto de Cao Guimarães |
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Autor | Marco Túlio de Sousa Ulhôa |
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Resumo Expandido | No livro, O filme-ensaio: desde Montaigne e depois de Marker, o pesquisador Timothy Corrigan destaca os elementos narrativos e representativos do filme-ensaio, atribuindo à origem do conceito, os aspectos decorrentes do interesse da geração de cineastas conhecida como a Rive Gauche da Nouvelle Vague francesa, em promover ligações interdisciplinares do cinema com a literatura e as outras artes. Na perspectiva de Corrigan, o marco fundamental do filme-ensaio moderno representado pela interpretação lançada por André Bazin em torno de Carta da Sibéria (Lettre de Sibérie, 1959), de Chris Marker; seguida pela produção de diretores como Alain Resnais, Agnès Varda e Georges Franju; remonta aos primórdios da prática ensaística que encontra, na literatura de Michel Montaigne, seu modelo precursor. A relação original que liga a escrita ensaística de Montaigne aos procedimentos do ensaio cinematográfico é, ainda, ampliada por Corrigan que projeta a potência formal e a natureza processual do filme-ensaio no campo do debate sobre a experiência e as indagações fenomenológicas que aproximam o cinema e a filosofia, como eixos de uma estrutura dinâmica produtora de ideias e pensamento. O legado literário que faz do filme Ex-Isto (2010), do cineasta e artista-plástico Cao Guimarães, uma livre-adaptação do “romance-ideia”, Catatau (1975), de Paulo Leminski, associado às interseções filosóficas produzidas tanto pela escrita ensaística Leminski, quanto pelas relações temáticas e especulativas que associam a obra à filosofia de René Descartes, são pontos de uma abordagem que almeja aproximar o longa-metragem do diretor mineiro, dos elementos que caracterizam o filme-ensaio e sua amplitude conceitual diante da expansão da experiência cinematográfica e das suas possíveis relações com o campo das artes. Para isso, a apropriação da hipótese central do romance experimental de Leminski, pela forma como Cao Guimarães propõe a viagem anacrônica de Descartes ao norte e nordeste do Brasil, traduzindo-a cinematograficamente em uma mise-en-scène marcada, basicamente, pelo baile performático entre a câmera e a representação do filosofo francês, estrutura a ação narrativa do filme, ao mesmo tempo que, de acordo com a leitura de Corrigan, esboça a maneira crítica como o filme-ensaio se apropria da literatura: “as adaptações remodelam, distorcem, condensam, ampliam e reposicionam textos literários não como objetos de comentário fiel, mas como o foco de testes críticos e, concomitantemente, testes do próprio fílmico” (CORRIGAN, 2015, p. 189) A consonância produzida, portanto, entre os elementos que marcam a tradução dos fatos estéticos do romance de Paulo Leminski e a maneira como o espaço-tempo cinematográfico de Ex-Isto é produzido de modo a ampliar a sua tradição cultural e literária; tão bem apontada pela crítica de Haroldo de Campos; determinam a análise em questão que, amparada pela forma Gilles Deleuze e Félix Guattari examinam a produção conceitual a nível pré-filosófico de modo a definir a filosofia como um “acontecimento”, propõe que o caráter ensaístico do filme de Cao Guimarães seja considerado pela chave do acontecimento que marca tanto a sua representação dramatúrgica quanto a sua leitura estética. Dessa maneira, é possível ampliar as intepretações de Timothy Corrigan em torno do filme-ensaio, pensando a forma como o filme analisado reitera alguns dos pontos levantados por suas análises, consecutivamente, interrogando-as do ponto vista artístico e, principalmente, cultural. |
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Bibliografia | CAMPOS, Haroldo de. O sequestro do Barroco na Formação da literatura brasileira: o caso Gregório de Matos. São Paulo: Iluminuras, 2011. |