ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Canto do Mar, canto da terra: Cavalcanti na obra de Linduarte Noronha |
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Autor | Fernando Trevas Falcone |
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Resumo Expandido | Entre 1956 e 1966 Linduarte Noronha (1930-2012) assinou coluna de cinema no diário A União. Um dos intervalos da sua atividade de crítico deu-se durante a filmagem de Aruanda, em janeiro de 1960. Em agosto do mesmo ano foi ao Rio de Janeiro para a montagem do filme. Em outubro de 1952 Linduarte surgia nas páginas de A União como dirigente do Cineclube Paraíba, criado exclusivamente para tentar trazer Alberto Cavalcanti (1897-1982) a João Pessoa. Envolvido na produção de O Canto do Mar no Recife, Cavalcanti não foi a Paraíba. “Figura misteriosa, mítica”. Assim Linduarte sintetiza, em entrevista concedida em 1988, a importância de Alberto Cavalcanti para o cinema brasileiro da década de 1950. A realização de O Canto do Mar no Recife, a temática regionalista do filme, a publicação do livro Filme e Realidade e o retorno de Cavalcanti à Europa mereceram registros variados na coluna de Linduarte. Ao reclamar do atraso na exibição de O Canto do Mar em João Pessoa, Linduarte defendia Cavalcanti das eventuais falhas do filme: "Há três anos Alberto Cavalcanti andou em Recife fazendo um filme. Foi uma reviravolta no ambiente artístico da capital pernambucana; todo mundo queria ser o ator principal da produção dirigida pelo grande cineasta brasileiro que se fez na Europa. Terminada a escolha, o elemento do rádio predominou no elenco, tristemente. (...) O filme não saiu uma obra-prima, como era de se esperar, nem poderia sair. O elemento humano fora ruim, abaixo da exigência do argumento escrito pelo próprio Cavalcanti, nem seu talento de diretor poderia fazer milagres." (UN, 14/dez/56, p. 2) No texto dedicado a O Canto do Mar Linduarte enfatiza a superioridade de Cavalcanti no cenário cinematográfico brasileiro. Como de hábito, o título do artigo toma emprestado o título do filme. Nesse caso, todavia, o colunista estampava logo abaixo do título a advertência: "Não é um filme nacional, é de Alberto Cavalcanti". Lendo trechos do artigo de Linduarte a frase pode até ser interpretada como uma alusão à dificuldade de Cavalcanti em realizar seus projetos no país com uma linguagem brasileira, destituindo assim o filme de qualidades nacionais. Mas o certo é que Linduarte ressaltava a preocupação com o "real", pouco explorado pelo cinema brasileiro daquele período: "Cavalcanti não encontrou qualidades humanas para o argumento de seu filme.(...) Infelizmente a ficção não convenceu e a história marcha paralela ao real, como óleo na água, não havendo conexão em nenhuma parte. Mas quando surge o ambiente, o real sociológico, a grandeza do cineasta resplandece. (...) Mas Cavalcanti estava sem tempo, queria sintetizar o mundo fabuloso do folclore nordestino, tendo quebrado assim o princípio que preconiza, de uniformizar a preferência, isto é, um em vez de vários." (UN, 08/fev/57, p. 2) Real sociológico que o crítico e jornalista encontra no sertão paraibano, enfatizando-o na reportagem As Oleiras do Olho D’água da Serra do Talhado, publicado em duas partes em A União (20 e 27 de agosto de 1957). Texto e fotos são de Linduarte. A reportagem será a espinha dorsal do roteiro de Aruanda. Ainda no texto sobre O Canto do Mar é evidente a relação do filme pernambucano de Cavalcanti com o que se verá em Aruanda: "O argumento simples e humano chocou a opinião dos alheios à outra face da vida. A história da velha lavadeira e sua miséria progressiva abalou aqueles que pensavam encontrar no filme de Cavalcanti um folhetim açucarado, de personagens hollywoodescas e falsetes, quando ele foi procurar na massa os heróis anônimos dilacerados pelas circunstâncias." (UN, 08/fev/57, p. 2) O canto da terra seca de Aruanda tem como fonte de inspiração, a se tomar como referência os textos do crítico Linduarte, O Canto do Mar. Em 1960, já longe do Brasil, Alberto Cavalcanti é presença importante na construção de um marco do cinema brasileiro. |
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Bibliografia | ARAÚJO, Luciana. A crônica de cinema no Recife dos anos 50. Recife: FUNDARPE, 1997. |