ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Hollywood é aqui? |
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Autor | Luís Alberto Rocha Melo |
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Resumo Expandido | Em 1943, Luiz de Barros realiza para a Cinédia “Berlim na batucada”, comédia lançada durante o carnaval de 1944. O filme apresenta diversos números musicais com astros como Francisco Alves, Trio de Ouro e a dupla Alvarenga e Ranchinho. Nos papéis principais, Procópio Ferreira vive o malandro Mexerica e Delorges Caminha interpreta o “Mister”, um turista americano. Ciceroneado por Mexerica, “Mister” é levado ao morro e lá fica fascinado pelo samba e sobretudo por Odete, namorada de Chico (Francisco Alves). O americano, que ao final saberemos ser um cineasta, acaba levando o casal para os Estados Unidos, onde encena um número musical em um filme que mostrará aos americanos do norte o que é o verdadeiro samba. Também em 1944, o cineasta chileno Jorge Délano realiza “Hollywood es así”, produzido pelos Estúdios Santa Elena (Santiago de Chile). Após ganhar um concurso patrocinado pelos produtos de beleza “Beauty Factory”, a jovem María Contreras (María Maluenda) parte da cidade de Los Andes para Hollywood, abandonando seu noivo, o médico Andrés (Pedro de la Barra). A permanência na “cidade do cinema” é traumática. Após um período de indefinições e esperas, María não se torna estrela, mas dublê da atriz Constance White (também vivida por Maluenda), permanecendo assim na obscuridade, até que se reencontra com Andrés nos Estados Unidos e com ele decide retornar ao Chile, abandonando de vez o sonho da carreira hollywoodiana. Dando continuidade às investigações desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisa Historiografia Audiovisual, financiado pelo CNPq e pela Fapemig, propomos nessa comunicação um estudo comparado entre os filmes de Luiz de Barros e Jorge Délano, tendo como eixo principal de análise as diferentes maneiras com que os dois longas-metragens em questão representam Hollywood como modelo central de influência para a cinematografia latino-americana dos anos 1940 – no caso, para os cinemas brasileiro e chileno. Luiz de Barros (1893-1981) e Jorge Délano (1895-1980) foram pioneiros em seus respectivos países, tendo realizado dois filmes amplamente reconhecidos pelas historiografias brasileira e chilena como marcos da chegada do cinema sonoro: “Acabaram-se os otários” (Luiz de Barros, 1929) e “Norte y Sur” (Jorge Délano, 1934). Dono de uma vasta filmografia, Luiz de Barros filmou de forma praticamente ininterrupta de 1915 a 1978. Embora muito atacado pelos críticos, realizou filmes de sucesso popular e alguns títulos de prestígio, como “O cortiço” (1945), adaptação do romance de Aluízio Azevedo. No cinema, Jorge Délano teve carreira mais curta, tendo iniciado como ator em 1914 e realizado seu último longa-metragem em 1946 (“El hombre que se llevaron”). Contudo, Délano foi popularíssimo no Chile, sobretudo como cronista, jornalista e caricaturista, assinando com o pseudônimo de “Coke”, em diversos periódicos populares, como “El Mercúrio” e a revista “Topaze”, que fundou e dirigiu. “Berlim na batucada” foi produzido por Adhemar Gonzaga, dono dos estúdios Cinédia, que nos anos 1920-30 teve três passagens por Hollywood. Também Délano por lá estagiou na virada dos anos 1920-30, apoiado por uma bolsa concedida pelo governo chileno. Os anos 1940 marcam a “política da boa vizinhança” entre os Estados Unidos e alguns países da América Latina, tendo como um de seus símbolos a visita de Orson Welles ao Brasil (1942) e ao Chile (1943). No Brasil, Welles realiza algumas sequências de “It’s All True” nos palcos da Cinédia, contando com o trabalho cenográfico de Luiz de Barros; no Chile, Jorge Délano promove um encontro com o autor de “Cidadão Kane”, para quem exibe seu filme “Escándalo” (1941). Esses elementos comuns, no entanto, não impedem que “Berlim na batucada” e “Hollywood es así” construam visões diferentes do “mito hollywoodiano”, oscilando entre a sedução e a desconfiança, e mantendo sempre em relevo a tensão entre a aceitação de modelos culturais e ideológicos importados e a afirmação de uma cultura nacional e popular. |
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Bibliografia | AUTRAN, Arthur. O pensamento industrial cinematográfico brasileiro. São Paulo: Hucitec, 2013. |