ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | A relação espectador-usuário nos documentários interativos |
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Autor | Gustavo de Oliveira |
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Resumo Expandido | Os campos documental e ficcional por muitas vezes se “invadem”, desenvolvendo uma relação de complementariedade e, ao mesmo tempo, afastamento. Não se pode traçar com objetividade uma linha divisória entre esses dois campos (GAUDENZI, 2013); é um processo criativo que sempre terá seu desenvolvimento nos dois campos. No campo documental tradicional, a expectativa do ouvinte é alimentada pela sensação gerada a partir da sua identificação com o que acontece em frente a câmera, que o faz se imaginar no local e momento exato em que determinado fato ocorre (NICHOLS, 1991). Bill Nichols faz uma definição sistêmica em relação ao documentário linear: como uma relação entre autor, espectador, plataforma e o que os circunda. Segundo Brian Winston (1995), o documentário não se atem com a realidade, mas sim com a subjetividade; isso não necessariamente significa que tenha alcançado ou persuadido a maioria dos espectadores (GAUDENZI, 2013). Nessa mesma linha de raciocínio, Bill Nichols afirma que o documentário não pode ser visto como uma reprodução da realidade, mas como uma representação do mundo em que vivemos (NICHOLS, 2005), que foi enquadrado e organizado de maneira “textual” (NICHOLS, 1991). Essas relações se alternam e se complementam com o tempo, sendo influenciadas pelos avanços sociais, políticos e tecnológicos, fazendo com que o documentário linear se reinvente, desenvolvendo a cognição do espectador e possibilitando novas forma de linearidade e a partir disso também uma não-linearidade, abrindo espaço para o desenvolvimento de documentários de narrativas não-lineares com possibilidade do uso da interatividade. A terminologia “documentário interativo” foi denotada por Mitchell Whitelaw em 2002, aferindo a possibilidade de geração de vídeos pessoais e envio destes para a internet, fato possibilitado graças à grande difusão da internet em residências. (WHITELAW, 2002). Esse formato documental propõe uma narrativa não-linear que entra em conflito com a voz do autor tradicional expresso pela narrativa linear, transformando a relação autor, espectador e o contexto de recepção, anteriormente definido por Bill Nichols, em autor, usuário e tecnologia, além de ter os modos de representação, também denotados por Nichols, alternados para modos de interação com a realidade (GAUDENZI, 2013). Os documentários interativos ou web-documentários, denominação também muito utilizada, não têm a necessidade de replicar as convenções dos documentários tradicionais lineares “[...] eles oferecem seus próprios modos e brincar com a realidade.” (WHITELAW, 2002). Eles exigem do espectador o uso da função cognitiva (ato de entender e interpretar) e uma participação física, onde o espectador tem de realizar alguma ação para que a narrativa se desenvolva, ou mesmo explorar elementos ramificados da narrativa principal. (SKARTVEIT; GOODNOW, 2004). A partir da concepção de um conceito de documentário que se desenvolve através da narrativa não-linear e se apoia no uso da interatividade como forma de meio de ação-visualização, diversas possibilidades de estruturas dialógicas entre criador e público podem ser denotadas, o que possibilita um vasto campo de formas de interação. Pode-se dizer que os documentários interativos sempre foram vistos como uma forma de enquadrar um conjunto de possibilidades, ao contrário de ser compreendido como um meio, gênero ou plataforma específica de comunicação. Tudo isso tem contribuído para um aumento no desenvolvimento dos “storytelling experienciais” e “realidades alternativas”, além de um potencial reenquadramento do que se entende por interatividade. A partir desse cenário, o objetivo desse trabalho é analisar as novas relações espectatoriais construídas através da inserção da interatividade. |
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Bibliografia | GAUDENZI, S. The Living Documentary: from representing reality to co-creating reality in digital interactive documentary. 2013. Tese (Doutorado) – Centre For Cultural Studies, Goldsmiths, University of London, London, 2013. Disponível em: . Acesso em: 16 de fevereiro de 2016. |