ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Entre a passagem e a permanência: estética do desaparecimento em Linz |
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Autor | Camila Vieira da Silva |
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Resumo Expandido | Em "Linz – Quando Todos os Acidentes Acontecem" (2013), primeiro longa-metragem de ficção de Alexandre Veras, um homem caminha em uma vila soterrada por dunas onde há poucos moradores. Sua relação com o deserto é marcada pelo cansaço de seu corpo, que continua a caminhar sem saber qual será o ponto de chegada. O filme explora ritmos, durações nesta jornada do fracasso dilatado ao limite, diante de uma vila que desapareceu. Não há angústia, nem desespero, mas o corpo enfraquece a ponto de se desvanecer, de desaparecer na paisagem. Ao evitar que um rosto esteja em close, o desaparecimento iminente se produz pela visão distanciada das figuras humanas no espaço e a combinação de quadros vazios. As imagens de "Linz" lançam ao espectador uma certa dificuldade, bem como ao próprio personagem: além deste homem que vaga, não existe outra presença humana imediata como anteparo de fruição do olhar. O que ainda é possível ver diante do deserto? Como permanecer neste lugar onde tudo parece ter desaparecido? Quando aquilo que está diante de nós é tocado pelo desaparecimento, não há como negar a “inelutável cisão do olhar” que Didi-Huberman aponta em "O que vemos, o que nos olha" (1998): “o que não vemos com toda a evidência (a evidência visível) não obstante nos olha como uma obra (uma obra visual) de perda” (DIDI-HUBERMAN, 1998: p. 34). Se o visível a princípio implica uma sensação de ter, de garantir uma presença, o que acontece quando algo neste visível nos escapa? Há uma experiência inevitável da perda, do esvaziamento. É produzida uma perturbação no olhar, que já não possibilita mais apenas a visibilidade de uma presença, mas a abertura para o desaparecimento. O personagem do filme – um homem até então sem nome que vaga pelo deserto e que, ao longo do filme, descobrimos se chamar Linz – é um caminhoneiro que chega à Tatajuba para entregar móveis a uma moradora da região. Seu próprio ofício o coloca dentro de uma trajetória de itinerância com os lugares por onde passa. No entanto, o encontro com esta vila coloca em xeque a impermanência de Linz, ao ser conduzido a ficar nesta região desértica. O contato com uma experiência que o próprio personagem não tinha é justamente algo que no visível lhe escapa e perturba seu olhar. A singularidade do desaparecimento – a princípio, da vila e, mais tarde, de outros elementos do filme – é o que faz Linz ter sua missão fracassada, mediante a relação entre passagem e permanência. A partir da análise de "Linz – Quando Todos os Acidentes Acontecem", é possível compreender como certo padrão de visibilidade do real pode ser reconfigurado pela potencialização de vazios, interstícios, ausências, desaparecimentos, capazes de desencadear uma cisão no olhar e permitir a aproximação com o mistério e com a sensação de perda. Trata-se de uma aposta em uma estética do desaparecimento que pode lançar outros caminhos estéticos dentro do cinema brasileiro, que tradicionalmente encontra-se ancorado no estatuto da presença, seja pela formulação de uma imagem de Brasil ou pela ênfase na construção de representações histórico-sociais. |
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Bibliografia | ARON, I. “Lenz: A trajetória do ser humano”. Fragmentos, Florianópolis, v. 1, n. 2, 1986, p. 45-53. |