ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Autoficção e autoria em "Elena" e "Olmo e a gaivota" |
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Autor | SUÉLLEN RODRIGUES RAMOS DA SILVA |
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Resumo Expandido | Os filmes "Elena" (Petra Costa, 2013) e "Olmo e a gaivota" (Petra Costa e Lea Glob, 2015) possuem distintas constituições de autoria e formas de expressão da autoficcionalidade, razão pela qual os consideramos modelares para o fomento da reflexão acerca de tais questões no campo do cinema documentário. O termo autoficção é designado, a princípio, por meio de uma combinação entre o pacto romanesco e o emprego do nome próprio do autor a partir da ficcionalização de acontecimentos reais, chegando-se a considerar a autoficção enquanto autobiografia dos nossos tempos (DOUBROVSKY, 2014). Após se legitimar no campo da literatura, a autoficção passou a ser reinterpretada, gerando diferentes leituras teóricas. Uma das mais conhecidas é o estudo de Colonna (2014), compreendendo-a por meio da homonímia anteriormente estabelecida, mas ampliando o conceito, abrangendo procedimentos distintos de ficcionalização de si, sem vínculo com a referencialidade das obras, entendimento que tem impactado em estudos sobre a autoficção no cinema (ZAMUDIO, 2007; ESPINOSA, 2015). Em posicionamento intermediário, ao qual nos filiamos, torna-se fundamental que o pacto estabelecido com o leitor/espectador seja pautado “num jogo de ambiguidade referencial”, com a nítida intenção do autor de “provocar a recepção contraditória” (FAEDRICH, 2014; LECARME, 2014; JEANNELLE, 2014; ALBERCA 2005/2006), de modo que não haja clareza sobre o que é real ou ficcional durante a leitura/espectação. Partindo dos pactos inferidos diante dos filmes em estudo, consideramos "Elena" uma (auto)biografia documental que apresenta aspectos de autoficcionalidade. Ao analisarmos o modo como se dá a ficcionalização de si, não há predominância de ambiguidade que conduza o espectador a questionar-se sobre o que é ou não criação. Observa-se de ambíguo a imbricação entre as imagens, falas, gestos das personagens Petra, Elena e Li An, o que se dá, em geral, via sobreposições, sequenciamentos, exploração de semelhanças físicas, do timbre da voz, mas que ainda permitem a identificação individual destas três mulheres, apesar de serem recursos que reforçam a ideia de que suas vidas, seus modos de sentir, de relacionarem-se com o mundo coadunam-se. A homonímia entre realizadora, narradora e personagem é bastante clara, não havendo dúvida sobre a quem corresponde o “eu” que determina o “auto”. Ao analisarmos "Olmo e a gaivota", por intromissões da direção postas em tela, que denunciam ao espectador a construção das cenas, discutidas em conjunto com os personagens, evidencia-se o intencional estabelecimento de um pacto ambíguo, que pode ser reforçado por informações extradiegéticas, como o fato de a peça "A gaivota", de Tchekhov, diferentemente do que sugere o enredo, não estar sendo ensaiada pelo grupo teatral do qual participam Olívia e Serge, mas constituir escolha deliberada das diretoras para produção de novos sentidos. Realizado em coautoria, há presentificação da direção através da voz extracampo, mas não são as vivências das diretoras que compõem a narrativa, e, sim, do casal de atores do Théâtre du Soleil, sendo o enredo centrado em Olívia Corsini, a quem corresponde a narração em voz over em primeira pessoa. Buscando estabelecer a homonímia autora-narradora-personagem, constituinte do conceito de autoficção, e considerando a participação da protagonista como colaboradora, fato expresso nos créditos e em paratextos, refletimos sobre a caracterização da autoria. Partimos da visão estabelecida pela "política dos autores", de atribuição da autoria total ao diretor (BERNARDET, 1994), passamos pela aceitação de outras possibilidades de designação do lugar do autor na produção cinematográfica ficcional (STAM, 2003) e da viabilidade de compartilhamento da autoria em produções documentais (FREIRE, 2003; 2005; SILVA, 2013; ANDRADE, 2015), admitindo a percepção da partilha autoral em "Olmo e a gaivota", entre as diretoras e a personagem Olívia Corsini. |
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Bibliografia | BERNARDET, Jean-Claude. O autor no cinema. A política dos autores: França, Brasil anos 50 e 60. São Paulo: Brasiliense: Editora da Universidade de São Paulo, 1994. |