ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | O efeito de real nas séries de tevê: o uso da imagem de arquivo |
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Autor | Melissa Fontenele |
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Resumo Expandido | A partir da noção de “efeito de real” proposta por Roland Barthes (2004), este trabalho busca refletir como as séries Narcos (2015-), da plataforma de streaming Netflix, e The People v. O. J. Simpson: American Crime Story (2016-), exibida pela FX, intercalam elementos do mundo histórico em uma narrativa ficcional a partir da introdução de imagens de arquivo em seus episódios. Em grosso modo, o “efeito de real” pode ser notado como um recurso estético que confere à narrativa uma impressão de conformidade com a realidade tangível. Ainda que originalmente cunhada para literatura, aplicar a ideia na linguagem audiovisual é um caminho sintomático para novas leituras de obras de ficção contemporâneas, especialmente em um momento de profusão de técnicas como vivemos hoje. Nesse sentido, como explica Jaguaribe (2007, p. 103), estratégias relacionadas à concepção de verdade podem ser moldadas de acordo com a época ou materiais usados como suporte para a representação. Assim, a imagem de arquivo caracteriza-se não apenas por seu viés estilístico, mas como um recurso de validação e significação da própria narrativa. Ao evocar eventos do mundo histórico, a ficção seriada televisiva se enreda nas práticas do meio com seus gêneros e formatos que de forma intrínseca fabricam conexões com a realidade. Em conjunto com a tradição documental através da imagem de arquivo, que surge como evidência física dos fatos, as obras compõem um quadro crível e persuasivo sem, contudo, iludir o espectador, que por sua vez transita e reconhece dois os campos do real e da ficção que, “na prática, são marcados por nuances e sobreposições” (DA-RIN, 2004, p. 17). Em Narcos, acompanhamos a ascensão e o declínio do traficante Pablo Escobar, cuja fortuna conquistada através do contrabando de cocaína e excentricidades criminosas conferiu-lhe fama ao redor do globo. Imagens do verdadeiro Escobar coexistem com sua versão ficcional sem que haja estranhamento ou ruídos, isto porque o estilo produzido pela série permite explicações e ilustrações dos fatos enquanto a narrativa se desenvolve. Já em American Crime Story essas imagens de arquivo não possuem natureza pessoal ou amadora, ao contrário de Narcos, mas apenas gravações e fotografias veiculadas por emissoras de televisão na época do julgamento do ex-jogador de futebol e ator norte-americano Orenthal James Simpson, acusado de assassinar a ex-mulher e o seu suposto amante. Além de Barthes, tomamos como base os estudos de Bordwell (2008), Butler (2010) e Mittell (2015) para refletir sobre o papel da imagem de arquivo (fotografias, gravações, recortes de jornais) no desenvolvimento estilístico e narrativo destas obras, em que a coerência da ficção expressa o insólito do real. |
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Bibliografia | BARTHES, Roland. O rumor da língua. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. |