ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | O filme histórico e o melodrama: Holocausto e Guerra |
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Autor | Fabio Luciano Francener Pinheiro |
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Resumo Expandido | O objeto da comunicação é expor o diálogo de dois filmes históricos do cineasta Steven Spielberg, A Lista de Schindler (Schindler´s List, 1993) e O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan, 1998) com os códigos narrativos e visuais do melodrama. Símbolo do cinema de entretenimento de massa hollywoodiano, Spielberg recria o Holocausto e o desembarque aliado na Normandia para a sensibilidade contemporânea, consciente do ajuste necessário aos acontecimentos para o melodrama, neste estudo articulado com dois subgêneros, o Filme de Holocausto e o Filme de Guerra. Insdorf (2003) aponta que Schindler foi lançado em um momento de mudança nas narrativas sobre o Holocausto, até então centradas nos judeus vítimas e nos nazistas opressores. A partir da década de 1990 surgem filmes que inserem um terceiro elemento, o salvador, personagem que arrisca a própria vida para salvar os judeus perseguidos ou é tocado pelo sofrimento que presencia e decide agir, encarnando assim o modelo de herói virtuoso, oferecendo uma alternativa de identificação para o público e a possibilidade de finais dramáticos e pedagógicos. Tuplin (2008) destaca que Ryan é um comentário sobre a história, pois sua construção narrativa reforça a noção de que o conflito mundial foi a grande batalha contra a opressão e tirania do nazismo, a favor da causa da liberdade envolvendo a nobreza do sacrifício. O filme é aberto com uma bandeira americana, sem nenhum olhar a ela conectado – um plano do narrador, que recorda do sacrifício de anônimos em prol de uma causa maior. Abordamos o melodrama como a forma dominante no cinema de massa, “modalidade mais popular na ficção moderna” (Xavier, 2003: 85), pautada pela combinação entre sentimentalismo, gratificação visual, sacrifício e extrema visibilidade da performance do ator. No melodrama, o interior se manifesta no desejo de expressar tudo em palavras e gestos, com o onipresente suporte musical a sublinhar as emoções (Brooks,1995). Gledhill (1987) destaca a transformação histórica do gênero, quando em sua origem teatral o melodrama se populariza ao destacar cenários grandiosos, efeitos cênicos e performance corporal, expandindo a “cultura do visível”, tão marcante no século XIX. A abordagem de Gledhill expande a compreensão do melodrama para além das noções convencionais conectadas à família e ao espaço doméstico. Oroz (1999) associa precisamente a conexão entre espetáculo teatral, tensão crescente e rapidez na ação no melodrama do palco com o cinema pioneiro do século XIX, em sua busca pelo domínio do tempo e do espaço, por meio dos planos pontos de vista, cortes para mudanças de perspectivas e a montagem paralela. Tais procedimentos, sistematizados por Griffith, persistem em uma tradição que será, ao longo do século, reciclada e questionada, mas jamais abandonada, constituindo-se na atualidade em um permanente processo de reciclagem de seus códigos, tendo Spielberg como um de seus maiores representantes (Xavier, 2003). Articulamos a análise com o resgate de alguns debates dos períodos de circulação das obras. Filme mais polêmico na obra de Spielberg, Schindler é lançado em 1993, mesmo ano em que é inaugurado o Museu do Holocausto em Washington. Filme e museu seriam, assim, “parte de um rito simbólico de passagem ao apresentarem o Holocausto na cultura mainstream americana” (Loshitzky, 1997). O interesse no consumo de representações do Holocausto teria uma relação direta com o gradual desaparecimento de seus sobreviventes. Em 1998, ano em que foi lançado Ryan, o público americano não acompanhava notícias de conflitos há anos, com exceção de intervenções na Somália e na Sérvia. A guerra parecia algo passado e distante: a queda do Muro de Berlim havia sepultado as ameaças da Guerra Fria. No momento em que circula, o filme atualiza o conflito para um público com amplo acesso a História em docudramas e programas exibidos em canais por assinatura, em um “entretenimento histórico semieducacional” (Tuplin, 2008). |
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Bibliografia | BROOKS, Peter. The Melodramatic Imagination – Balzac, Henry James, Melodrama and the Mode of Excess. New Haven and London: Yale University Press, 1976. |