ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Um olhar feminista sobre a crítica cinematográfica |
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Autor | Bárbara de Pina Cabral |
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Resumo Expandido | Se o cinema é uma qualidade do existencial, e a existência é uma qualidade do cinema, como afirma Pasolini (1982), refletir sobre o cinema é, por conseguinte, criar alternativas de análise para se pensar modos de interpretar a vida, ou seja, modos de compreender a realidade. Podemos pensar o cinema em relação à sua estética: os processos de composição, a potência e a ontologia; mas também a partir da representação e da criação de imaginários que envolvem o embate do cinema com as conjunturas socioculturais específicas. A problematização da imagem em movimento envolve, enfim, imbricações que perpassam as disciplinas. Pensar o cinema é pensar de forma complexa, de maneira transdisciplinar. Nesse sentido, podemos refletir sobre o papel do crítico de cinema em face às interpretações não só do filme enquanto um objeto representante da fruição estética, ou seja, pertencente a arte, mas também como um produto cultural, resultado das interações entre o imaginário coletivo e as percepções individuais. Pensar a crítica cinematográfica é, então, compreender os processos de intercâmbio entre produto-público-recepção. Desta forma, o crítico pode ser entendido como intermediador entre o público e o produto: é aquele que entende mais especificamente sobre o objeto fílmico e que simultaneamente encontra-se como espectador. Em relação a crítica cinematográfica, devemos nos atentar para pelo menos três perguntas: a) em que condições sociais a obra foi produzida? b) em que contexto ela foi recebida? c) qual o valor da crítica em tal contexto? A estrutura da relação de produção lingüística dos filmes depende da força simbólica (BOURDIEU, 1983) entre os três interlocutores em questão: cineasta, crítico e espectador. Demonstram-se dois eixos de recepção e também dois eixos de produção de ordem simbólica; 1) o cineasta que busca no mundo exterior e interior substrato para a criação artística; 2) a recepção do especialista no assunto 3) a recepção do público geral 4) a ressignificação do produto apresentado através da interpretação e elaboração da crítica do especialista. Encontra-se, assim, o status de espectatorialidade da crítica cinematográfica como um análise ativa do filme: a espectatorialidade é pensada a partir da instuição-cinema e do dispositivo narrativo-discursivo e enunciativo do filme (BAMBA, 2013). Desta forma, a crítica cinematográfica se revela como um espectro do pensamento social vigente e torna-se coadjuvante na produção de novos imaginários. Podemos entender o espaço da espectatorialidade como um espaço para compreender as questões culturais de nosso tempo. Tratando-se de um país ainda com questões sociais a serem problematizadas na esfera pública, o Brasil pode ser ainda reconhecido como um país patriarcal e isso se reflete nas narrativas cinematográficas produzidas, bem como nos olhares sobre estas produções. Ao pensar a crítica cinematográfica como co-produtora de sentido, o “olhar do crítico” passa também pela desconstrução da teoria feminista dos estudos de gênero. Como a crítica cinematográfica se estabelece no cenário atual? Quem são os críticos? Qual o olhar que eles tem sobre às questões de gênero? Como avaliam os filmes em que os aspectos relacionados ao feminismo e ao feminino são acentuados? Como a critica cinematográfica tem se interessado por estes aspectos? Para compreender tais questões, este trabalho se fundamenta na análise das críticas de três filmes brasileiros contemporâneos: Era uma vez eu, Verônica (2012), de Marcelo Gomes; O Olmo e a gaivota (2015), de Petra Costa e Mate-me, por favor (2016), de Anita Rocha da Silveira. Os textos escolhidos encontram-se nos sites das revistas Cinética e Contra Campo, por serem reconhecidas em relação a este gênero textual, no portal Omelete, devido a sua popularidade na internet e no site da Associação Brasileira de Críticos de Cinema, por reunir textos de diversas localidades do pais. |
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Bibliografia | PASOLINI, Pier Paolo. Empirismo herege. Lisboa, Assírio e Alvim, 1982 |