ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | O mal-estar do viajante na Trilogia da Estrada de Wim Wenders |
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Autor | Cesar de Siqueira Castanha |
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Resumo Expandido | A proposta deste trabalho é analisar os filmes que compõem a trilogia da estrada, de Wim Wenders, a partir de uma observação de como os filmes apresentam a sensibilidade do viajante, e mais precisamente o seu mal-estar. Os três filmes são Alice nas Cidades (1974), Movimento em Falso (1975) e No Decurso do Tempo (1976). Todos esses filmes têm como protagonistas viajantes alemães que circulam à deriva e sofrem, cada um a sua maneira, por não pertencerem a nenhum lugar específico. Este trabalho pretende se debruçar sobre como opera esse “não pertencimento” da figura do viajante nos filmes da trilogia. O objetivo é, também, refletir até que medida o mal-estar se faz inerente ao gesto de viajar. Para estudar essa hipótese, o trabalho parte dos estudos de John Urry, sobre turismo; de Susan Sontag, sobre fotografia; de Richard Sennett, sobre o isolamento; de Jean-Luc Nancy, sobre a paisagem; e tem, como base, o ensaio Turistas e Vagabundos: heróis e vítimas da pós-modernidade, de Zygmunt Bauman. Em seu ensaio, Bauman evoca dois sujeitos, o turista e o vagabundo, como estratégias de vida pós-moderna para evitar que uma identidade se torne demasiadamente fixa (BAUMAN, 1998, p. 114). Os turistas, nas palavras de Bauman, são aqueles que “realizam a façanha de não pertencer ao lugar que podem estar visitando: é deles o milagre de estar dentro e fora do lugar ao mesmo tempo” e seguem outro caminho sempre que as coisas ameaçam sair de seu controle. Ainda que respeitando as particularidades de cada filme — entendendo, por exemplo, como Alice nas Cidades trabalha a questão da fotografia de maneira mais específica, ou como o protagonista melancólico de Movimento em Falso se distingue dos demais —, é possível perceber que algumas problemáticas e abordagens estéticas são comuns aos três filmes. O isolamento e a paisagem são algumas dessas questões em comum. Para Nancy, a paisagem “é a terra daqueles que não têm terra, que estão inquietos e alienados, que não são um povo, que são de uma só vez aqueles que perderam o seu caminho e que contemplam o infinito — talvez o seu infinito distanciamento” (2005, p. 57). Na análise dos filmes, deve-se ter em vista o conflito dos personagens, e do cinema de Wenders, com o próprio lugar em uma Alemanha dividida. O distanciamento desses personagens logo se torna isolamento e alienação, que eles buscam contornar em sua empreitada turística. Em seu estudo sobre o isolamento narcisista, Sennett comenta que o sujeito isolado se culpa, lamentando a incapacidade de “sentir mais” ou de “realmente sentir”, mas, enterrada por baixo dessa autoacusação, está a sensação de que o mundo está sempre o decepcionando (SENNETT, 2014). Essa frustração é marcante nas viagens empreendidas pelos personagens dos filmes. No lugar de romper o seu isolamento e fazê-los sentir como parte de algo, a viagem parece intensificar a distância entre eles e o espaço por onde circulam. Em Alice nas Cidades, essa distância está muito claramente demarcada pela sensação do protagonista, fotógrafo, diante das fotos que revela. “Nunca mostram realmente o que viu”, ele reclama. Sua frustração poderia ser corroborada por Sontag, que define a foto tanto como uma “pseudopresença quanto uma prova de ausência” e para quem “a fotografia tornou-se um dos principais expedientes para experimentar alguma coisa, para dar uma aparência de participação” (SONTAG, 2004). O trabalho também está interessado em pensar o que a sensibilidade do viajante, como apresentada pela trilogia, pode trazer adiante como questões que perpassam pela sensibilidade do viajante/turista contemporâneo e o quanto desse mal-estar do isolamento e do não pertencimento está presente na experiência do turista. |
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Bibliografia | BAUMAN, Zygmunt. Turistas e vagabundos: os heróis e as vítimas da pós-modernidade. In: ________. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. p 106-130. |