ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Violência e ressentimento em O Som ao Redor e História del Miedo |
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Autor | Fernanda Sales Rocha Santos |
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Resumo Expandido | No presente trabalho serão traçadas conexões temáticas e estéticas entre o filme brasileiro "O Som ao Redor" (Kleber Mendonça Filho, 2012) e o argentino "Bem Perto de Buenos Aires" (Historia del Miedo, Benjamín Naishtat, 2014), focando dois aspectos interligados no contexto do espaço urbano da atualidade: o ressentimento social e a violência. Para tanto, utilizaremos a teorização de Ismail Xavier (2001) sobre a figura do ressentido no cinema brasileiro, assim como considerações sobre a expressão da marginalidade no cinema argentino por autores como Lorena Borgondi, Victóra Guzmán (2011) e Gonzalo Aguilar (2006). Passados mais de vinte anos da retomada no cinema brasileiro e do início do "Nuevo Cine Argentino", permanece ativo o diálogo com uma tradição de realismo que intenta revelar as fissuras históricas e culturais das sociedades desses países. Contudo, a experiência urbana e cotidiana agora é posta em nova chave: o espaço está em transformação ativa (sendo cercado e privatizado) enquanto personagens seguem rotinas estagnadas, menos perambulantes que nos anos 1990. A segurança e o medo passam a ser condicionante das convivências daqueles que estão do “lado de dentro” da cerca (importante figura reiterada nos dois filmes). A partir desta conjuntura e de uma postura discursiva vinculada a um olhar que teme “o outro”, ambos os longas exibem uma violência expressa nas relações, por vezes cordiais, estabelecidas por um processo de ressentimento 1) histórico, no entanto, presentificado nas cidades de Recife e Buenos Aires e 2) de relações cotidianas de vizinhança e de trabalho. A temática do ressentimento, recorrente na cinematografia brasileira recente como propõe Xavier (2001), ergue-se essencial nos dois filmes. A vingança com ares de "western" de Clodoaldo e seu irmão “por um pedaço de cerca” em "O Som ao Redor", é o exemplo mais emblemático de ressentimento, mas não o único, no longa brasileiro. Paralelamente, por conta de cercas rompidas insinua-se uma provável invasão em um condomínio de luxo por aqueles que estão em processo de despejo de seus territórios em "História del Miedo". Existe uma pulsão ressentida em planos próximos de olhares, falas ambíguas, silêncios, histórias de sonhos e ataques explícitos que geram a crescente tensão na qual se apoiam as obras cinematográficas aqui estudadas. Já a violência, gerada e geradora do ressentimento, surge com contornos mais sutis e ambíguos do que em outras obras exemplares das retomadas brasileira e argentina, na qual existia uma espécie de espetacularização da desigualdade, como propõe Ivana Bentes (2007) e María Laura Pardo (2008). É uma violência por vezes banal e naturalizada (tapas entre irmãs e vizinhas / gritos de patrões com funcionários), presente no medo do corpo estranho (menino-bicho que é imobilizado em "História del Miedo" / garoto que escala telhados e toma uma surra dos vigias em "O Som ao Redor") e, no limite, plástica e sonora ( icônico banho de sangue / rasgar do bucolismo sonoro de um condomínio pela invasão de um helicóptero incômodo). Assim, em exercício comparativo, o trabalho analisará como são expressas e articuladas narrativamente marcas da violência e do ressentimento nos dois filmes mencionados, levando em conta uma perspectiva histórica de tais temas nos cinemas pós anos 1990 do Brasil e da Argentina e perseguindo a hipótese de semelhanças e recorrências estéticas e discursivas. |
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Bibliografia | AGUILAR, Gonzalo Otros Mundos: un ensayo sobre el nuevo cine argentino. Buenos Aires: Santiago Arcos Editor, 2006. |