ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | El Club, de Pablo Larraín, ou como esconder padres em uma praia fria. |
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Autor | Marina Soler Jorge |
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Resumo Expandido | El Club é o oitavo filme dirigido pelo chileno Pablo Larraín, autor de Tony Manero, Post Mortem e No, da série de TV Prófugos, transmitida pela HBO, e mais recentemente diretor de Neruda e da cinebiografia Jackie. Trata-se de obra que aborda a tentativa da Igreja Católica no Chile de ocultar crimes cometidos por padres, escondendo-os em casas em pequenas vilas e cidades. Em El Club cinco padres moram em um sobrado amarelo na cidade litorânea de La Roca, sendo cuidados e vigiados pela zelosa irmã Mônica. Lá eles seguem uma tranquila rotina: há horário para rezar, cantar e comer. Só podem sair à rua em horários estabelecidos e nunca devem ser vistos juntos. Passam o tempo cuidando de uma horta, assistindo a realities shows e montando quebra-cabeças. O passatempo principal e mais excitante, no entanto, é treinar um cachorro de raça galgo que compete em corridas nas quais são feitas apostas em dinheiro. O filme se abre com um quadro negro e uma citação do Velho Testamento, Gênesis 1:4: “Y vio Dios que la luz era buena, y separó la luz de las tinieblas”. Trata-se, como todos sabemos, do início de tudo: depois de criar o céu e a Terra, Ele percebeu que ela era escura e vazia e preencheu-a de luz, que separou das trevas para criar a noite e o dia. A referência bíblica adequa-se ao tema “religioso” do filme, mas faz mais do que isso: ela será a expressão do que ocorrerá no nível da cinematografia. Três elementos plásticos se destacarão nesse sentido, e serão analisados nessa comunicação. Em primeiro lugar, a utilização da imagem filmada a contraluz, que exacerbará os contrastes entre claro e escuro e dará às figuras uma textura “borrada”. Em segundo lugar, a utilização da câmera grande angular, também conhecida como “olho de peixe”. Por fim, a utilização de uma paleta de cores desbotadas, que parecem inclusive criadas a partir de um filtro azulado, e que exacerbam o aspecto enevoado do litoral chileno. Essas três escolhas estéticas dão ao filme um aspecto escuro frio, nebuloso e desconfortável, que não passou desapercebido dos críticos. A citação do Velho Testamento com a qual se inicia o filme, ao mencionar luz e trevas, remete muito imediatamente à opção de se enquadrar em contraluz os personagens, colocando-os, geralmente em plano médio ou primeiro plano, entre a câmera e a luz natural. Isso acontece desde os primeiros minutos do filme e perdurará o tempo todo, seja em ambiente externo seja em ambiente interno, no qual as janelas servirão como fonte de iluminação. O segundo elemento mencionado, a utilização da câmera grande angular, será visto tanto em planos médios ou primeiro planos quanto em planos gerais. No primeiro caso, o que vemos são principalmente imagens do interior da casa, e notamos sem dificuldade a presença daquele efeito “olho mágico” que distorce as paredes da sala de jantar e de estar ao mesmo tempo em que consegue captar uma quantidade maior de informação visual do ambiente. Ao distorcer as paredes interiores da casa, formando linhas côncavas que “fecham” o ambiente, esses planos reforçam a sensação de enclausuramento dos personagens. Resta, por fim, analisar a paleta de cores utilizada no filme. Salta aos olhos do espectador o aspecto azulado pálido enevoado das cenas externas, o que confere ao litoral chileno um aspecto de frio e desolação. O ar está sempre pesado, e nunca se consegue ver claramente os detalhes das figuras e dos fundos das imagens. O grupo de jovens com quem Padre Vidal estabelece contato chega a comentar que La Roca é triste e sufocante. Em nível extradiegético, sabemos que o clima no litoral do Chile pode ser bastante frio. No filme, no entanto, estes aspecto é exacerbado pela paleta de cores apagada e azulada espessada por uma atmosfera nublada. A comunicação proposta, portanto, pretende discorrer sobre esses elementos estéticos, procurando mostrar de que maneira ajudam a construir a história que está a ser contada. |
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Bibliografia | AFFRON, C., Affron, M. J. Sets in motion - art direction and film narrative. New Jersey: Rutgers, 1995. |