ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Suspensão do tempo no cinema de Apichatpong Weerasethakul |
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Autor | Lyana Guimarães Martins |
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Resumo Expandido | O trabalho do cineasta tailandês Apichatpong Weerasethakul é conhecido pela diluição das fronteiras entre sonho e realidade, em um claro interesse pela questão da memória e da imaginação. Entretanto, há outro ponto essencial, muito presente nos seus filmes e, principalmente, nas suas instalações: o tempo. Apichatpong se debruça não apenas no tempo diegético, mas no espectatorial, isto é, na experiência do tempo que o público tem a partir da sua obra. Sem dúvida, essa preocupação não é exclusiva sua, afinal, muitos trabalhos de arte também lidam com essa questão, de uma certa maneira. No entanto, com ele este tema parece ser fundamental na construção dos filmes. Na primeira cena de Síndrome e um Século (2006), vemos três personagens em uma sala. Trata-se do escritório de uma médica, que está a entrevistar um médico novato no hospital, enquanto um terceiro personagem está sentado no sofá ao lado, à espera. Nesta cena, Apichatpong se vale de poucos planos, não recorre ao jogo de plano e contra-plano, mantendo um enquadramento quase sempre aberto, com a câmera fixa. O diálogo é sem cortes e, portanto, cheio de vazios e silêncios. Quando os dois médicos se retiram da sala, a câmera está do lado de fora, colada à porta, e vemos os personagens passarem na sua frente. Mas, como estão em contraluz, só vemos suas silhuetas. Eles estão andando e conversando, um papo banal e, enquanto isso, a câmera segue reto, em um lento traveling rumo à janela, na qual vemos uma paisagem, um campo verde com muitas árvores ao fundo. Durante esse movimento, continuamos a ouvir a conversa em off. Com essa construção, o diretor consegue nos colocar presentes em duas situações simultâneas: a vista da paisagem, com os sons da natureza, e o caminhar dos personagens, através apenas do som das suas vozes e dos ruídos dos ambientes por onde passam. Quando a câmera realiza esse deslocamento, nos levando para fora da cena que supostamente serial a principal, somos convidados a um tempo outro, distinto do tempo corrente, cronológico, uma temporalidade que não é passível à métrica, mas à sensação. Mas que tempo é esse? Sem a pretensão de trazer uma resposta, mas sim oferecer uma reflexão a partir dessa questão, este trabalho propõe um diálogo entre as ideias de Gastón Bachelard, quando ele fala do instante poético e do tempo vertical, e Gilles Deleuze, ao tratar do tempo do acontecimento. Ambos, apesar de terem compreensões diferentes acerca do tempo, nos ajudam a compreender o que poderia ser essa temporalidade. O pressuposto de que somos despertados a um tempo outro nos filmes de Apichatpong suscita diversas questões: O que acontece quando se dá essa experiência? O que pode gerar, proporcionar em nós? Nessa reflexão, surgem duas hipóteses secundárias. A primeira é que, ao convidar a uma outra temporalidade, o trabalho lida com uma produção de presença, isto é, o público tomaria consciência do seu próprio estar, da sua presença no espaço-tempo. A segunda é que esse tempo outro, essa suspensão, estaria relacionado a um lugar de trânsito, um entre-lugar no qual os limites entre o dentro e o fora são diluídos, assim como da própria distinção do tempo passado, presente, futuro. Talvez o ápice dessa construção por Apichatpong se dê no filme-performance-instalação Fever Room, que circulou em alguns festivais na Europa ao longo de 2016. Neste trabalho, uma espécie de cinema expandido, o cineasta-artista cria um espaço-tempo único, no qual público e filme cohabitam. Fever Room é considerado, pelo próprio artista, como uma continuação de Síndrome e um Século. Assim, ambos vão nos guiar na reflexão sobre a suspensão do tempo proposta neste ensaio. |
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Bibliografia | BACHELARD, Gastón. La intuición del instante. México DF: Fondo de Cultura Económica, 2002. |