ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | A resistência das mulheres na crítica: a experiência das Elviras |
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Autor | Maria Castanho Caú |
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Coautor | Samantha da Silva Brasil |
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Resumo Expandido | Desde a época dos Jovens Turcos da Cahiers du Cinéma, passando pelos grandes nomes das críticas norte e latino-americanas, vemos uma miríade de homens, em geral brancos, que clama para si o domínio do saber do cinema. Ao longo das décadas, esse ambiente crítico se construiu de forma a espelhar o machismo e a falta de representatividade feminina que são lugar-comum nos sets de filmagens, e só começaram a ser duramente questionados recentemente. Adentrando esse grande clube do Bolinha, as mulheres que se dedicam a tal ofício em geral têm suas presenças questionadas e postas à prova constantemente, sendo alvo de diversas retaliações e cotidianas agressões, que muitas vezes as impedem de alçar postos de destaque, como aponta o diminuto número de mulheres membros das grande associações de crítica do país. Além disso, mesmo no contexto internacional algumas das pioneiras acabam relegadas ao esquecimento, num difícil quadro, em que apenas uns poucos nomes, como Susan Sontag, Laura Mulvey, Sylvie Pierre e Pauline Kael, conservam pronunciado destaque. Num ano em que o Encontro da Socine se propõe a pensar o estado da crítica (e o faz, é preciso pontuar, lançando uma chamada em que constam apenas nomes de homens), é preciso problematizar o espaço feminino no panorama crítico nacional. A breve trajetória das Elviras, coletivo de mulheres que se dedicam a pensar o cinema, é digna de nota. Com apenas oito meses de vida, já que foi criado em julho do ano passado por Samantha Brasil e Cecilia Barroso, o grupo já conta com 82 (oitenta e duas) mulheres, espalhadas pelas cinco regiões do país, e paulatinamente impulsiona debates e ações correlatas, rumo à edificação de uma maior equidade de gênero no meio da crítica. Indo mais além, as Elviras também procuram estabelecer trocas bastante férteis com as realizadoras, que podem atestar, elas mesmas, o lugar ainda subalterno da mulher no ambiente da realização cinematográfica, em que o número de diretoras e mulheres em funções ditas técnicas (como fotografia ou som) permanece bastante reduzido. Assim, busca-se um intercâmbio, em que as mulheres da crítica possam fomentar o trabalho das realizadoras, e pensar o cinema de modo geral a partir de um viés feminista. Cabe ressaltar que o nome do coletivo é uma homenagem a Elvira Gama, que foi a primeira mulher no Brasil a escrever sobre a imagem em movimento, entre 1894 e 1895, em uma coluna chamada “Kinetoscópico”, no Jornal do Brasil. Ela não falou sobre o cinema propriamente dito, porém a homenagem a essa pioneira faz parte de um movimento importante em prol da visibilização das mulheres que pensam e escrevem sobre o audiovisual no Brasil (no passado e hoje). A falta de notoriedade dessa pioneira, que já refletia sobre imagens em movimento antes mesmo do estabelecimento do cinema narrativo, é um indicativo interessante e um ponto de partida para refletirmos sobre um constante e sistemático apagamento e desestímulo direcionado às mulheres que se lançam a atravessar essa fronteira aparentemente intransponível e impenetrável que é a crítica de cinema. Através de dados coletados junto às diferentes associações críticas e a partir da vivência das mulheres associadas ao grupo, pretendemos investigar as transformações do campo crítico brasileiro e a repercussão de ações coletivas em prol de uma maior representatividade feminina. Nosso principal interesse é pensar como a ainda nascente experiência das Elviras impacta o cenário nacional e põe em debate o papel da mulher na crítica cinematográfica do país, ainda dominada por um olhar masculino. |
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Bibliografia | CARVALHO, Danielle Crepaldi. Luz e sombra no écran : realidade, cinema e rua nas crônicas cariocas de 1894 a 1922. Campinas, SP: [s.n.], 2014. |