ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | ESTÉTICA DA RECEPÇÃO E CORPORIDADE NO CINEMA EXPANDIDO |
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Autor | CRISTIANE MOREIRA VENTURA |
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Resumo Expandido | O projeto de pesquisa “Estética da recepção e corporeidade no cinema expandido” nasce a partir de observações de trabalhos híbridos desenvolvidos entre os anos de 2012 e 2014 em Belo Horizonte (MG): Nave fluorescente e Um andar sobre o mar. Nestes, vídeo e som misturam-se de modo espacializado em ambientes a serem percorridos pelo público, a fim explorar os diferentes sentidos do espectador. A pesquisa desenvolvida no IFG (Campus Goiás), envolve bolsistas do Bacharelado em Cinema e Audiovisual e do Técnico em Produção de Áudio e Vídeo. Temos como objetivo investigar a recepção sensório-corporal em obras audiovisuais que são espacializadas em ambientes expositivos, como galerias, museus, casas, entre outros. Nossa principal indagação é: como o corpo é afetado, vivencia e frui em obras audiovisuais que são executadas foras das salas de cinema? Para tanto recorremos aos estudos relacionados à percepção, corporeidade e à arte tecnologia. Estudamos obras de Jonathan Crary, nas quais o autor realiza uma genealogia da atenção, observação e percepção, verificando como os indivíduos se adaptam aos estímulos da modernidade. Como também dos autores Lúcia Santaella, Arlindo Machado, Júlio Plaza, Kátia Maciel, nas quais tratam das interseções entre corpo, arte tecnologia, percepção, imersão e interrupções. Através desses estudos foi possível perceber que as tecnologias interativas expandem a a condição física do espectador, e que a hegemonia de visualidade não tem o mesmo valor como em tempo atrás. A percepção nas instalações audiovisuais seria menos centrada na visualidade, permitindo por meio de uma composição de elementos sensoriais, uma forma mais ativa da ideia de “corporidade”. Desta forma, podemos compreender que nas obras de cinema expandido, a visão seria “apenas uma das camadas de um corpo que pode ser capturado, modelado ou controlado por uma série de técnicas externas”. (CRARY, 2013, p.27) Outro ponto que podemos destacar é a forma como ocorre a percepção no cinema expandido, seria uma experiência fragmentária e dispersa, o público poderia ser caracterizado como uma espécie de flâneur, apreciando pontos ou partes aleatórias. O público muitas vezes, não assiste desde o início ao fim de uma projeção, seu tempo de fruição varia de pessoa pra pessoa. Seria uma vivencia rizomática, enquanto a experiência cinematográfica em uma sala de cinema seria verticalizada, na qual o público realizaria a imersão conforme o aprofundamento da narrativa e do tempo, e para que ela aconteça de forma efetiva o espectador precisa acompanhar a sessão do começo ao fim, realizando um ciclo já determinado, fechado e completo. Com a finalidade de observar e compreender algumas questões relativas à percepção no cinema expandido, realizamos em novembro de 2016 uma cine instalação no Museu das Bandeirs (MuBan), em Goiás (GO), intitulada: Enxovia Forte. Nela, observamos como o público experienciava a composição de elementos: o espaço histórico (a antiga cadeia), a múltiplas projeções, sendo quatro, três na parede e uma no chão e o som. Algumas pessoas acompanhavam toda duração das projeções (14 min), outros apenas poucos minutos, outros se detinham na narrativa e outros nos sons, alguns na questão poética/plástica criada pela projeção na madeira e no sal. Realizamos também entrevistas com algumas pessoas que visitaram a exposição, e notamos como grande parte do público se ateve a narrativa das projeções. Nos questionamos se a obra fosse menos “figurativa” como seria essa percepção. Percebemos também que a presença do público se torna fantasmática, pois essa apenas aprecia e não interfere na execução e apreciação da instalação. Esse corpo fantasmático do público também pode ser observados em algumas outras obras como “Um andar sobre o mar” (Cris Ventura, 2014). Já em outras obras, podemos notar que a presença do público afeta e altera a execução/ apreciação, como Mar adentro (Katia Maciel) e Gabinete de Alice (Lucas Bambozzi). |
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Bibliografia | CRARY, Jonathan. Técnicas do observador: visão e modernidade no século XIX. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012. |