ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Vanguardas e filmes-ensaio no cinema brasileiro contemporâneo |
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Autor | Denise Trindade |
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Resumo Expandido | Neste artigo, abordaremos filmes brasileiros contemporâneos que, ao aproximarem-se de aspectos presentes nas vanguardas modernistas, criam imagens sensoriais por meio de camadas visuais e sonoras, numa convergência entre as artes plásticas e o cinema. Segundo XAVIER (2005), o cinema de Hans Richter com suas variações em torno da figura retangular em fundos diversos oferece material para estudos como superfície e profundidade apontando, como quer para uma análise do filme como objeto de si mesmo com qualidades próprias. Para CORRIGAN (2015) , os filmes de arte das vanguardas, os documentários e as narrativas ficcionais transgrediram as formas tradicionais do cinema e da arte, produzindo modos singulares de conjugar textos, imagens e sons. Atualmente, as fotografias, as câmeras de vídeo e imagens digitais, deslocam o funcionamento da percepção diante de estímulos para aquém da representação, encaminhando- se para o nível sensorial ao produzirem imagens por meio de outras imagens. Em "Diário de Sintra" (2008) Paula Gaitán empreende uma mistura de filme caseiro com travelogue, utilizando materiais de família, como filmes em super 8 e fotos antigas, tentando encontrar na cidade de Sintra, vestígios de seu então marido Glauber Rocha, onde viveram durante um tempo e onde ele morreu. Ao ressignificar imagens antigas que se misturam com entrevistas com moradores do local, ela produz um material estético vigoroso sobre a figura do cineasta, humanizando sua ausência através de relatos e fotos. Por meio de séries visuais e sonoras, a cineasta transita entre passado, sonho, imaginação e real. Diário de Sintra é um filme em primeira pessoa que pretende por meio fragmentos, documentos e imagens abstratas, tornar presente a ausência do cineasta . Na primeira cena do filme, a tela aparece quase toda preta e ouve-se um som de chuva e grilos. A seguir, uma câmera que filma em giros uma árvore e seus galhos secos em um movimento de transe contempla o céu. Aos poucos vemos fotos de Glauber Rocha penduradas nos galhos juntamente com a voz em off da própria diretora comentando o vazio do tempo que passa. Em outro momento, as fotos caem no chão e uma menina tenta juntá-las. Percebe-se o que talvez seja a principal pergunta do filme: como configurar uma imagem por meio de imagens? Dialogando com as imagens míticas e engajadas do cinema novo no Brasil, Marcelo Gomes e Karim Ainouz apresentam no filme "Viajo porque preciso, volto porque te amo "(2009) o Nordeste como um território complexo que se constrói entre tradições, hierarquias e formas de resistência entre o arcaico e o moderno. No percurso do geólogo José Renato pelo sertão nordestino percebe-se que seus caminhos internos se confundem com o possível percurso de um canal que desviará as águas da região. Imagens de vazio, de abandono, de isolamento se confundem com as paisagens interiores do viajante, realizando um “outro sertão”. Através da narração acompanhamos os sentimentos e os afetos do personagem por conta de uma separação amorosa, juntamente com as paisagens de ausência vistas por ele de dentro do caminhão e em suas paradas na estrada. Como pinturas em movimento, percebe-se nas imagens filmadas com câmera fixa, o clima árido da região, além da pobreza de seus habitantes que serão desapropriados de seus humildes casebres devido a construção do canal. Ao acompanhar os deslocamentos e a desterritorialização dos realizadores destes dois filmes, que possuem como tema diários e viagens, visamos perceber por meio das relações entre as vanguardas e o ensaio fílmico a importância das paisagens sensoriais que emergem em suas camadas visuais e sonoras no cinema brasileiro atual. |
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Bibliografia | ALBERA, François. La vanguardia en el cine. BAS. Manantial. 2009. |