ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | O Semiárido nordestino em “Na quadrada das águas perdidas” (2011) |
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Autor | Carla Conceição da Silva Paiva |
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Resumo Expandido | A região do Semiárido nordestino, fincada no imaginário popular e nos meios de comunicação como sertão, especificamente as cidades de Juazeiro e Petrolina, se apresenta como cenário na produção de importantes obras do cinema nacional, como “Deus e o Diabo na terra do sol” (1964) e “Deserto Feliz” (2007). Trata-se de narrativas que utilizaram, como cenário, parte dos espaços rurais e urbanos dessas duas cidades, impondo uma visão de mundo sobre o povo nordestino, reducionista, priorizando signos de nordestinidades como o cangaço, a violência, o vaqueiro, a pobreza etc., influenciado pelo discurso literário pela perspectiva Euclidiana. A nordestinidade pode ser entendida como a resultante de diversas identidades sociais nordestinas, ou seja, considerando a diversidade espacial, territorial e cultural do Nordeste brasileiro, é uma imprudência selecionar e esquematizar uma única interpretação sobre a identidade regional do Nordeste. Assim, a identidade regional nordestina veiculada apenas a imagem do sertanejo, como verificamos em pesquisa anterior, se constitui como um reducionismo, um estereótipo inserido na cultura nacional, historicamente construído e mantido, principalmente através da literatura e do cinema. Segundo Sylvie Debs (2007), a ficção cinematográfica, no Brasil, tentando responder às demandas de formação da identidade nacional, desenvolveu um papel preponderante na construção do imaginário coletivo sobre o Nordeste, projetando tanto no interior como no exterior do país, mitos ligados ao sertão e ao litoral dessa região. Contemporaneamente, nessa região, catalisadas por movimentos sociais e órgãos políticos, uma nova apresentação geográfica está sendo difundida, no lugar de sertão, surge a denominação Semiárido, delineado, principalmente, pelo Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste - FNE e demarcado cartograficamente, como uma parte do Nordeste brasileiro, cujas principais características são as chuvas que ocorrem de modo irregulares no espaço, no tempo e no volume de precipitação, além de uma alta evaporação por falta de plantas e outras coberturas vegetais. Assim, o Semiárido vem sendo repensado tanto na perspectiva e valorização de outros elementos da realidade local quanto no reconhecimento da pluralidade e inteireza dos sujeitos que coabitam essa região. No campo da educação, por exemplo, difunde-se a proposição da Educação Contextualizada para a Convivência com o Semiárido – ECSAB que defende uma outra dinâmica sociocultural e educativa que seja capaz de redimensionar o lugar dos sujeitos e das imagens produzidas sobre esses e a natureza, focando, sobretudo, nas potencialidades e especificidades desse território, reconhecendo a necessidade de fomentar uma nova possibilidade de construir outras visões de mundo, viabilizando o surgimento de um modelo político, econômico e social alicerçados no bem viver dos povos e na sustentabilidade de seus modos de vida. Em paralelo a essas discussões, no audiovisual local, percebemos, a partir do início dos anos 2000, que houve uma proliferação das produções cinematográficas e filmes de média e longa metragens, discutindo questões referentes ao Semiárido e sua população. Face ao exposto, pretendemos analisar a representação dessa região em uma produção local contemporânea, observando se há ou não correspondência com os signos de nordestinidade anteriormente diagnosticados no cinema nacional. Nesse contexto, o filme “Na quadrada das águas perdidas” (2011), dirigido por Wagner Miranda e Marcos Carvalho, despertou nosso interesse por descrever em sua sinopse uma intencionalidade voltada para uma outra forma de representação sobre a região; por ser um monólogo, uma linguagem pouco explorada no cinema; por ter inspiração na música homônima de Elomar Figueira; apresentar um único personagem masculino, Olegário (Matheus Nachtergaele) e ter conquistado quatorze prêmios em alguns festivais de cinema brasileiros. |
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Bibliografia | ALBUQUERQUE JÚNIOR, D. M. de. A invenção do Nordeste e outras artes. 2 ed. Recife: FJN, Ed. Massangana; São Paulo: Cortez, 2003. |