ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | A “descapitalização” do Rio imaginada pela crítica cinematográfica |
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Autor | Eliska Altmann |
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Resumo Expandido | Em diálogo com as teorias da crítica e da recepção, buscarei compreender modos com que a cidade foi retratada por críticos num momento significativo de definições sobre sua identidade: quando perdeu o posto de capital, tornando-se Estado da Guanabara. Prosseguindo a hipótese de que o julgamento feito pela crítica se conserva “para a posteridade”, sendo a obra submetida a uma imposição simbólica (Bourdieu, 2002), tratarei de examinar como o processo de “descapitalização” sofrido pelo Rio de Janeiro foi imaginado por críticos que dele fizeram parte (e ainda fazem). Igualmente, ao dar prosseguimento ao recorte, preservarei os mesmos diretores analisados. Portanto, reitero que os documentos pesquisados adotam referências de duas representações antitéticas de urbanidade: uma representante da chanchada e outra, (neo-)realista, inspiradora do ideal estético do Cinema Novo. Por considerar que o Rio, “cidade-capital”, tinha a função de “representar a unidade e a síntese da nação” e o papel de “locus da identidade nacional” ou “vitrine do país” (Motta, 2004), interessa-me desvendar formas com que críticos avaliaram tal conjuntura sociopolítica na década de 1960. Na temporalidade deste cenário, analisarei textos publicados em meios massivos e restritos sobre o Estado da Guanabara (1960-1975), isto é, depois da transferência da capital federal para Brasília, quando Carlos Lacerda era governador, e a partir do mandato do primeiro general ditador, Marechal Castelo Branco, implementado o golpe militar, em 1o. de abril de 1964, perdurado por duas décadas. Isto posto, os objetivos do trabalho são os seguintes: além do principal, em que busca analisar como o Rio de Janeiro foi descrito pelo campo da crítica num período de transição política e simbólica fundamental no século passado, pretendo 1) verificar, no âmbito da recepção, julgamentos e formas de argumentação acionadas no debate sobre institucionalização de imagens do Rio ex-capital; 2) apontar regularidades e dissensos nas narrativas sobre a metrópole que permitirão avaliar diversos vieses de “descapitalização”; 3) contribuir para os debates que salientam morfologias e composições de campos intelectuais, no caso, a crítica; 4) entender como o campo da crítica se posiciona, legitimando obras de caráter longevo como “representações identitárias” e colaborando na edificação de signos políticos e culturais da cidade; 5) analisar possíveis disputas pela produção e preservação de memórias ou imaginações sociais cariocas. Objeto da reflexão hermenêutica, o cinema participa de um duplo devir: o de si próprio como obra e o do sujeito que o vê. Com base nesta abordagem circular, considerarei perspectivas historiográficas não apenas pautadas em indivíduos políticos ou “históricos”, mas a partir de interdependências e configurações atravessadas por representações urbanas, diretores e formadores de opinião. Desse modo, tratarei igualmente de ressaltar como ambos os cineastas – Watson Macedo, o “rei da chanchada”, e Nelson Pereira dos Santos, o “ideólogo” do Cinema Novo – foram descritos pelo campo “dirigente” ou “formador de opinião”, a compor certa intelligentsia. Assim, pretendo descobrir se a força de discurso da crítica cinematográfica passa a chancelar determinado tipo de imagem da cidade, que, por sua vez, pode acabar sendo lida como oficial. Uma vez que certifica e constantemente revalida uma imaginação específica do Rio de Janeiro em detrimento de outras, a crítica parece se incumbir do papel de atribuir a esta representação um caráter único e longevo. |
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Bibliografia | ALTMANN, E. O Brasil imaginado na América Latina: a crítica de filmes de Glauber Rocha e Walter Salles, Rio de Janeiro: Contra Capa/ Faperj, 2010. |