ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | ICBA/Bahia 1971-1978 – Espaço de ocupação artística e de resistência |
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Autor | Marise Berta de Souza |
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Resumo Expandido | O novo diretor do Instituto chega à Bahia em 1970 trazendo na bagagem experiências de cineclubismo e teatro estudantis, impregnado pelos conceitos vigentes na vida cultural da Alemanha dos anos 1960, tendo como uma de suas referências a política cultural revolucionária de Hilmar Hoffmann, fundador do Festival de Cinema Internacional de curta-metragem em Oberhausen, também Secretário de Cultura de Frankfurt, onde concebeu e implantou a máxima Cultura Para Todos. As experiências mais recentes vinham da vivência na sede do Instituto no Rio de Janeiro onde exerceu o cargo de Vice-Diretor, assumindo a programação cinematográfica que se estendeu aos Institutos de São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Salvador. A primeira gestão de Roland Schaffner, pois ele voltará para realizar uma segunda administração na década de 1990, se constrói com base no respeito ao panorama social e cultural do lugar, por meio de uma cooperação transcultural potente entre artistas e intelectuais. Contando com um prédio na região central de Salvador, espaço amplo e com capacidade de expansão, com equipamentos técnicos, recursos humanos qualificados e abertos à mudança, aposta na força reflexiva da arte e propõe o desenvolvimento de um “centro de cooperação intercultural”. Em regime de cogestão, convoca artistas e intelectuais baianos a ocuparem, com criatividade e invenção, o “território livre do ICBA” indicando caminho e método para a criação de um espaço de trânsito, colaboração cultural e experimentação artística. Preenchendo o suposto vazio cultural que ocorre em Salvador na década de 1970, mencionado por alguns pesquisadores que tratam o período, o ICBA, se impõe como um local de estímulo à inovação, rupturas estéticas, encontros interculturais, tornando-se celeiro e incubadora de proposições nas diversas linguagens artísticas e abrigo “diplomático” na defesa incondicional dos direitos políticos e humanos. O espaço transforma-se, a biblioteca e um pequeno cine teatro são construídos, barracões são improvisados para abrigar as oficinas e montagens artísticas. Organicamente se transforma em um campo de produção colaborativa, promovendo a integração entre as expressões artísticas, agregando simultaneamente exposições, cursos, seminários e espetáculos. Dando sequência às inclinações cinematográficas universitárias e à prática de curadoria exercida no Rio de Janeiro, em parceria com o Clube de Cinema da Bahia, tendo à frente o professor e cineasta Guido Araújo, Schaffner investe na promoção de mostras e retrospectivas históricas do Cinema Brasileiro, do Cinema Clássico, das Novas Cinematografias e do Jovem Cinema Alemão. Dinamiza o cine teatro e instala o Cinerante, no pátio do bar-restaurante, onde o público passa a assistir as projeções ao ar livre. Essas iniciativas irão se somar ao apoio dado à Jornada de Cinema, evento criado por Guido que teve a base de sua organização garantida pelas instalações do Instituto. Vale ressaltar que a Jornada, que teve seu início em 1972, foi o mais antigo festival cinematográfico do Nordeste brasileiro e ao longo de quatro décadas ajudou a tecer as linhas que acompanharam as marchas e contramarchas efetuadas na luta pela afirmação do cinema independente no Brasil. Ainda no campo cinematográfico, o ICBA acolheu o grupo Experimental de Cinema da Bahia, o Clube de Cinema, a Secção Nordeste da Federação Nacional de Cineclubes e a Associação Brasileira de Documentaristas (Secção Nordeste). Também se torna necessário registrar o pioneirismo em uma significativa atividade de formação realizada no Estado, o curso de cinema feito em convênio com o Clube de Cinema da Bahia e a ABD, responsável por introduzir no ambiente das práticas profissionais os cineastas baianos que surgiram nos anos 1970. |
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Bibliografia | CRUZ, Marcos P.P. O super-8 na Bahia: história e análise. Dissertação apresentada na Pós-Graduação da ECA – USP, São Paulo, 2005. |