ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | ZAUMDATA e a arte pós-aurática |
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Autor | Fernando Gerheim |
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Resumo Expandido | O ponto de partida de ZAUMDATA foi a ideia de um trabalho de videoarte que usasse o dispositivo material - tela ou monitor - como parte da imagem. O vídeo deveria converter em imagem a tela em que passasse, fosse a de TV, a do celular ou a da sala de cinema. Seria um vídeo que, por assim dizer, convertesse qualquer uma dessas telas, incluindo aquelas que são relacionadas, no senso comum, à idéia de mídia, em algo significativo. O vídeo agiria assim como uma espécie de intervenção sobre qualquer tela, tornando-a evidente. Da perspectiva midiológica proposta por Régis Debray, o campo de observação enquandrado, que foi herdado pela tela de TV e outros meios contemporâneos, tem dois pressupostos: "[...] primeiramente confiou em uma arquitetura mais específica baseada em panoramas, que se desenvolveu na Idade Média européia, e depois, confiou numa mentalidade européia correspondente, ansiosa por controlar o mundo através de uma televista a partir de uma posição interior, o que significa a partir de uma posição à parte (um dualismo separando interior e exterior, sujeito e mundo)." (BELTING, p. 74) A ruptura com esse dualismo entre interior e exterior produzida por ZAUMDATA pode ser depreendida como característica da videoarte, se tormarmos a definição da linguagem do vídeo proposta por Philippe Dubois, num texto em que ele a diferencia da linguagem do cinema. O autor concebe o vídeo como imagem e dispositivo de modo inseparável, e, sobretudo, "imagem como dispositivo" e "dispositivo como imagem". (2004, p. 47) Mas o modo de ZAUMDATA poder estar em qualquer tela é também um modo de falar da onipresença de telas em nosso cotidiano, de sua portabilidade junto ao corpo, ou seja, da confusão ente a imagem informática e a ideia de mídia. Além da questão imagem-tela, portanto, havia também a ideia de fazer um trabalho que pudesse infiltrar-se como um hospedeiro, contaminando qualquer tela e convertendo-a na própria imagem. Esse caráter interventivo, de estar em qualquer lugar, pressuponha que o trabalho fosse encontrado de modo inesperado e surpreendesse o observador. Concebi um vídeo em que a imagem é criada por uma tela com imagens apenas nas três "janelas", seções do retângulo maior da tela, que ativam o quadro que deveria, de modo neutro, emoldurá-las, sugerindo um rosto. A primeira imagem que me ocorreu colocar nas "janelas" foi a da pura estático. Depois, além da imagem do simples sinal de transmissão de vídeo, acrescentei a imagem da luz refletida na água do rio, luz em movimento, imagem mais próxima metaforicamente do cinema. Esta forma extremamente simples de humanização da técnica foi a célula inicial do trabalho. Como as telas de celular e tablet podem ser posicionadas na horizontal ou na vertical, se estiver acionada em "configuracões" a opção "girar tela", fiz um um vídeo também para tela vertical, com dois retângulos mais alongados e finos em cima e outro mais esteito e grosso no lugar da boca. O trabalho instalado no chão, disposto numa área de solo vazia, para ser encontrado por pessoas que passassem desprevenidas, requisitando sua atenção, tendia a criar uma nova configuração do espaço. O trabalho estava assim vinculado ao mesmo tempo a uma recepção distraída, a um encontro único e à possibilidade de ser reproduzido em múltiplas telas. Com tablets espalhados no espaço público, evidenciando as telas como objeto, ZAUMDATA seguia a lógica da dispersão, da descentralização. Embora a imagem seja integrada à tela, denunciando a camada discursiva que recobre o objeto físico, este não é explorado como meio específico, no sentido modernista da expressão, mas agrega às questões do vídeo e da mídia informática ainda outras, ligadas à linguagem do cinema. (KRAUSS, 1999) Coloquei uma imagem antológica de montagem da história do cinema em cada uma das "janelas" no lugar dos olhos e sincronizei o instante do corte, a fim de chamar a atenção para o intervalo da montagem. [...] |
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Bibliografia | BELTING, Hans. Por uma antropologia da imagem. In Concinnitas, ano 6, volume 1, número 8, julho 2005. |