ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | André Abujamra: música e ruído no cinema brasileiro recente |
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Autor | GEÓRGIA CYNARA COELHO DE SOUZA |
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Resumo Expandido | Conhecido pela aleatoriedade e indefinição de seus elementos (Rodríguez, 2006), o ruído, seja natural ou humano (Martin, 2003), pode imprimir verossimilhança, quando intencional (ruídos de sala ou foley sincronizados à imagem), ou, ao contrário, um caráter expressivo que rompa com o realismo e/ou agregue informações à narrativa (um grito fora de quadro, efeitos sonoros sem fonte visível). Quando não intencional, é considerado erro, perturbação, som indesejado – convergente com Schafer (1992) – e, portanto, algo que precisa ser controlado ou eleminado, sob o “risco” de se revelar o aparato cinematográfico ao espectador e interferir em sua fruição. O diálogo entre música e ruído é contemporâneo à construção da linguagem cinematográfica. Nos primeiros anos do século XX, o Futurismo italiano de Marinetti propunha uma concepção de música que exaltasse os novos sons da modernidade, das máquinas industriais e do movimento acelerado das cidades, em detrimento da música erudita tradicional. O cinema clássico-narrativo, no entanto, não integrou de pronto sonoridades incomuns a sua gramática, pois precisava da música erudita para se legitimar perante a elite. Em cinematografias como a russa e a alemã, por outro lado, há sonoridades precussoras da música concreta dos anos de 1950 já em filmes da década de 1930 (Dziga Vertov, Walter Ruttmann), conforme o estudo de Lucentini (2014). No cinema brasileiro, a diluição das fronteiras entre ruído e música é notável a partir dos anos de 1960 e 1970, com o cinema novo e o cinema marginal, em filmes de Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Júlio Bressane, Ozualdo Candeias e Rogério Sganzerla. Um dos ruídos mais notáveis em filmes nacionais na década de 1960, por exemplo, é o som do carro de boi em Vidas Secas (Nelson Pereira dos Santos, 1963), filme no qual a musicalidade e ritmo arrastado característicos daquele meio de transporte adquirem importância narrativa em suas relações com a imagem. Essa dinâmica adquiriu novas nuances a partir da Retomada, quando o Brasil reuniu condições para iniciar a reestruturação técnica dos processos cinematográficos sobre as bases da tecnologia digital. Em um contexto de maior liberdade de manipulação, o ruído reafirma seu potencial narrativo na relação com a imagem. Contribuíram para o momento favorável a globalização, o liberalismo econômico do governo Collor, o consequente acesso facilitado a produtos culturais, aparelhos eletrônicos e às novas tecnologias de produção audiovisual, além da popularização da rede internacional de computadores, da implantação de novas políticas públicas de fomento à produção cinematográfica pós-Collor e da gradual reconquista do público brasileiro após uma certa “queda em descrédito” do cinema nacional no período de declínio da Embrafilme. Foi possível, então, com o som digital, reduzir a distância, ou mesmo equiparar a qualidade técnica do som dos filmes brasileiros àquela apresentada por produções internacionais, tendo como principal referência o cinema de entretenimento norte-americano, ao mesmo tempo reduzindo os custos referentes a equipamentos e infraestrutura profissionais, em comparação aos demandados pela tecnologia analógica. Vamos, aqui, nos dedicar ao estudo de caso do compositor de música para cinema André Abujamra, um dos músicos mais recorrentes do cinema brasileiro a partir da Retomada. Desde o início dos anos de 1990, antes mesmo da estreia da banda Karnak (1992), o Abujamra alimenta um acervo de sons composto por gravações dele e diferentes livrarias digitais de audio (samplers de orquestra e outras coleções e efeitos) adquiridas por compra, download gratuito e outras formas de compartilhamento. Busca-se verificar a hipótese de que o compositor consegue, ao incorporar o ruído, ampliar as possibilidades narrativas da trilha musical no cinema brasileiro. |
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Bibliografia | COSTA, F. M. O som no cinema brasileiro. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008. |