ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Glauber Rocha e Roberto Schwarz: aproximações |
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Autor | Arlindo Rebechi Junior |
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Resumo Expandido | Na famosa revista francesa Les Temps Modernes, Roberto Schwarz publica seu célebre e polêmico texto “Cultura e política, 1964-1969”, em 1970. Com a força de um testemunho, sua inflexão de arguto e hábil ensaísta não se ateve apenas ao que ele previu ser um mecanismo social explicativo para aquele momento, o crítico deixou-se contaminar pela própria experiência e pela própria percepção do clima cultural brasileiro de então. À época, Schwarz fazia uma constatação: num primeiro momento, com a ditadura instaurada no Brasil, em 1964, para a surpresa de todos, a esquerda não foi aniquilada; a produção cultural pôde ainda crescer no período entre 1964 e 1968, dando indicações de que havia ainda uma hegemonia cultural de forças da esquerda. Preciso em suas constatações, Schwarz localiza que a origem dessa hegemonia cultural de esquerda estava ligada ao socialismo de forte presença anti-imperialista que se difundia no Brasil, antes de 1964. No polo da produção artística, três anos antes da publicação do texto de Schwarz, Glauber Rocha coloca em circulação seu filme Terra em Transe, em certa medida como uma resposta ao golpe de 1964. Revestido de fartas camadas de significação, em complexos jogos alegóricos, havia no personagem Paulo Martins um misto de insatisfação e acomodação à situação política no estado fictício de Eldorado, sugerindo, por parte do filme, uma interpretação sobre a conjuntura de época. É preciso notar que Ismail Xavier, em seu livro que é um dos nossos clássicos – Alegorias do subdesenvolvimento (1993) –, já apontou em sua análise sobre Terra em Transe que ali se registrava uma espécie de emblema do desencanto. Havia, por assim dizer, na base de um filme como este de Glauber Rocha, uma crise da teleologia revolucionária, no período pós-1964. Se em Deus e o Diabo na Terra do Sol, a “sucessão dos fatos ganha sentido a partir de um ponto de desenlace que define cada momento anterior como etapa necessária para atingir o telos (fim)” (XAVIER, 1993, p.12), Terra em Transe representaria o arquivamento dessa tese. Cada um ao seu modo, tanto Roberto Schwarz como Glauber Rocha conjugavam caminhos convergentes, no sentido de abrir e fundamentar uma discussão sobre arte e política. Ambos os textos articulavam sobremaneira uma experiência intelectual própria resultante da percepção de um clima intelectual pós-1964. Para utilizar um termo difundido entre nós por Anatol Rosenfeld, ambos os textos cristalizavam um certo Zeitgeist. Nesse horizonte, este trabalho procura realizar uma análise, no sentido comparativo, entre o ensaio “Cultura e política, 1964-1969”, de Roberto Schwarz, e o filme Terra em Transe, de Glauber Rocha. Parte-se da hipótese de que o filme de Glauber Rocha, sobretudo na figura de seu grande protagonista, Paulo Martins, e na maneira épica de narrar assumida pela obra – na acepção brechtiana –, antecipa várias teses presentes no texto de Schwarz. De antemão, é preciso assinalar que não é propósito dessa comunicação realizar uma leitura do filme de Glauber Rocha como uma espécie de ilustração do que ocorreu no ensaio. E vice-versa. O que se tem como caminho metodológico e horizonte de análise instituído é o mapeamento do modo como este cineasta brasileiro plasmou pela linguagem cinematográfica um certo clima intelectual e interpretativo do seu tempo, de modo a explorar teses, percepções, interpretações que se comunicaram com que poderia ser a crise da esquerda à época. Certamente, é na agonia de Paulo Martins, com suas formas singulares de encarar a crise em face de modelo político e estético posto, que Glauber Rocha conseguiu dar vazão a um discurso próprio, cujas linhas mestras, supõem-se aqui, cruzam olhares com o nosso grande ensaísta Roberto Schwarz. |
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Bibliografia | CEVASCO, Maria Elisa. Modernização à Brasileira. Rev. Inst. Estud. Bras., São Paulo, n. 59, p. 191-212, Dec. 2014. |