ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Luz, sombra, corpos: subversão fotográfica em A morte pede carona |
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Autor | Matheus José Pessoa de Andrade |
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Resumo Expandido | Nossa incursão consiste em destacar como o diretor de fotografia John Seale apresenta um conceito inventivo e subversivo nas imagens cinematográficas do filme norte americano A morte pede carona (Robert Harmond, 1986), um clássico dos filmes B. Entendemos por filme B aqui os trabalhos de baixo orçamento, com produção independente, diretores estreantes, realizados para complementar a produtividade de alguns grandes estúdios. Esse perfil de produção possibilita o reconhecimento de um lugar experimental para os realizados em meio ao campo industrial. O trabalho do diretor de fotografia é se responsabilizar pela atmosfera visual de um filme. Escolhe, entre alguns elementos, o estilo de luz que vai aplicar sobre a obra, sobre cada cena e cada personagem, se preciso. A definição do contraste entre luz e sombra implica na dramaticidade imagética. Nesse sentido, dois aspectos nos chama atenção no filme: o lugar de fotometria e a contraluz diurna. Conforme nossas referências, na fotografia existem algumas regras básicas a serem seguintes, tais como: a fotometria deve ser medida no rosto dos atores, pois “(...) é fundamental poder realizar uma exposição correta daquilo que no cinema nos interessa mais: o rosto” (ARONOVICK, 2004, p.32); a contraluz equivale à imagem noturna. “É fácil, é eficaz e realmente já foi usada um pouco demais. Virou uma espécie de convenção: noturna = contraluz” (MOURA, 1999, p.133). Entendemos como conceitos que traduzem fórmulas fotográficas para determinadas situações. Contudo, ressaltamos que os referidos autores destacam que a fotografia é uma atividade criativa e que o limite é a inventividade do fotógrafo, ou seja, regras podem ser rompidas. Assim, Seale materializa uma ruptura a esses dois princípios, oferecendo uma dramaticidade especial sobre os corpos dos personagens do filme A morte pede carona. Em síntese, Jim Halsey (C. Thomas Howell) está dirigindo um carro em direção à Califórnia em plena madrugada. Sonolento, ele tenta algumas estratégias para manter-se acordado, até resolver dar carona para uma pessoa na estrada. Não sabia ele que o favor feito a John Ryder (Rutger Hauer) seria perigoso, pois ele matava os motoristas que o davam carona. Ao perceber isso em seu primeiro diálogo, dentro do carro, Jim empurra-o para fora, em movimento, e segue seu caminho. Porém, John não o deixa em paz pelo resto da viagem, numa perseguição doentia e quase surreal pela mais lendária rodovia dos Estados Unidos: a Route 66, a qual cruzava o país. No decorrer da perseguição, a trama faz a polícia pensar que o mocinho é o vilão e vice versa, tornando o problema de Jim ainda mais grave. Entre tiros, folgareis e explosões, batidas, capotadas e afrontas face a face, os dois fixam uma estranha relação durante todo o filme. Nossa inquietação, então, reside sobre o conceito fotográfico do filme, o qual parece romper com o habitual do cinema clássico. Notamos que John Seale não mede a luz nos rostos dos personagens principais, preservando constantemente no filme uma face escura nos dois sujeitos de perfil conturbado. E investe numa contraluz diurna frequente, utilizando o sol como luz principal. Duas soluções de luz dramática fundamentais para estabelecer a atmosfera visual da obra com consistência, a fim de melhor traduzir o perfil psicopático dos personagens principais e da narrativa como um todo. |
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Bibliografia | ARONOVICK, Ricardo. Expor uma história: a fotografia do cinema. Rio de Janeiro: Gryphus, 2004. |