ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Documentário moderno brasileiro – o lado B da história |
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Autor | Karla Holanda |
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Resumo Expandido | De maneira geral, o documentário brasileiro dito moderno, que se afirma entre os 1960 e os 1970, é marcado por uma espécie de adaptação aos métodos direto e verdade que ecoavam, sobretudo, dos Estados Unidos e da França. Possibilitado pelo avanço das novas tecnologias que permitiam captar o som sincronicamente com a imagem, que davam maior agilidade no manuseio da câmera, que viabilizavam filmagens por mais tempo sem interrupções, etc., essa nova forma de filmar colocava em jogo a complexidade da “verdade”. Grosso modo, num caso, pretendia filmar sem interferir no mundo, como se flagrasse a vida acontecendo e, noutro caso, o que interessava era revelar como os sentidos eram construídos, interagindo diretamente nas cenas e, assim, demonstrar que os acontecimentos surgiam no próprio processo de filmagem, sem, num caso ou noutro, apontar alguma verdade como dada e acabada. As realidades desses países eram abissalmente diferentes da do Brasil. Natural, portanto, que as influências desses modos de filmar, ao interagir com o contexto local, resultassem em formas particulares. Diferentemente dos modelos estadunidense e francês, os cineastas brasileiros, de maneira geral, não continham o impulso de “desvelar a verdade” - como se ela lhes surgisse cristalina à frente -, ao diagnosticar o país e sua população através de uma voz off que reconduzia qualquer tentativa de ambiguidade do discurso. Impulso que se justifica, afinal, imagens do Brasil profundo no cinema eram novidade, a desigualdade social alarmava; era preciso dizer, alardear. A marca maior do documentário moderno brasileiro, assim, foi trazer à tona os temas, corpos, figurinos e locações de nossa dramática realidade social, propondo discutir o país, dando voz ao “povo”, mesmo que para interpretá-la. Essa pode ser uma brevíssima síntese da história do cinema documentário brasileiro, cujos filmes tornados cânones por ela têm, quase todos, direção masculina, o que não surpreende, afinal, de fato, a participação feminina era rara, não só no cinema, mas em todas as áreas. No entanto, é possível identificar dezenas de diretoras que estrearam entre as décadas de 1960 e 1970. Muitos desses filmes só recentemente começam a ser discutidos e têm revelado características peculiares, temática e formalmente, que nos permitem acreditar na ideia de uma história do documentário moderno brasileiro de autoria feminina como uma história à parte. Esta comunicação, portanto, pretende se ater aos documentários de autoria feminina produzidos nessas duas décadas, buscando destacar aspectos particulares dessa produção. Se nos anos 1960 essa produção é pequena, na década seguinte ela se multiplicará exponencialmente, embalada pelo movimento feminista. O que nos dizem essas obras ainda tão pouco discutidas em seu conjunto? Quando a mulher assume o ponto de vista, que filmes passam a ser produzidos? Seria possível transferir os aspectos que caracterizam o documentário moderno brasileiro tal qual conhecemos ao documentário de autoria feminina? Essas são algumas questões que buscaremos tratar nesta apresentação. |
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Bibliografia | BERNARDET, Jean Claude. Cineastas e imagens do povo. São Paulo: Brasiliense, 1985. |