ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Santiago Álvarez: Um Vertov Latino? |
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Autor | Marcelo Vieira Prioste |
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Resumo Expandido | Frequentemente pesquisadores e cinéfilos em geral comparam a produção do cubano Santiago Álvarez (1919-1998) com a do cineasta Dziga Vertov (1896-1954). Também é comum que, no intuito de enaltecer o primeiro, encontre-se em revistas, sites especializados e diversos outros materiais de divulgação a expressão um “Vertov latino”. O pesquisador inglês Michael Chanan foi um dos autores que parametrizou muitos nessa direção ao comparar a primeira década da produção de Santiago Álvarez com o cinema soviético, dizendo que: “[…] Álvarez amalgamou uma cleptomania criativa com a habilidade de um bricoleur para reinventar a montagem soviética em um cenário caribenho” (CHANAN, 1996, p. 430, tradução nossa). Porém, em mais de uma entrevista, quando indagado sobre essas aproximações, o cineasta cubano afirmava só ter tomado conhecimento da filmografia do realizador de Um Homem com uma Câmera (URSS, 1929) no início dos anos 1970 e por isso, segundo ele, “[…] qualquer semelhança é pura coincidência” (ÁLVAREZ apud LABAKI, 1994, p. 41). Mas, de qualquer forma, o cubano sentia-se enaltecido quando comparado a um dos grandes difusores do pensamento bolchevique por meio do cinema na União Soviética, principalmente a partir da década de 1970, com a intensificação dos vínculos econômicos e políticos de Cuba com o bloco socialista. Em síntese, ao reconhecer que o cinema mais relevante de Vertov baseou-se em um projeto de “revelação” de uma nova realidade revolucionária a partir de uma dialética entre o captar de imagens do mundo e a posterior montagem, formando um produto intenso, alimentado pela realidade material que estabelecia um novo discurso sobre ela, também o cinema estatal de Santiago Álvarez, feito décadas depois, não se resumiu ao “registro” do real, mas pautou-se pela adoção de procedimento similar, no interior de um contexto fílmico em prol dos ideais da Revolução Cubana em curso. Recentes pesquisas, como o livro Post-Revolution Nonfiction Film: Building the Soviet and Cuban Nations, lançado em 2013 pelo pesquisador Joshua Malitsky da Indiana University (EUA), também enfatiza que ambos estavam imbuídos em fazer do documentário a expressão máxima de uma sociedade pós-revolucionária, um dos motivos pelos quais o gênero passou a ocupar um lugar de destaque dentro dos governos recém-instituídos. Contudo, o autor aponta alguns distanciamentos e contrastes, principalmente entre a trajetória do cineasta cubano com a do realizador eslavo no transcorrer dos respectivos processos revolucionários. Álvarez seria então um continuador tardio de princípios vertovianos? Talvez parcialmente, pois, se por um lado, contextualmente, ambos confiaram no cinema documentário como uma forma de não apenas singrar por visões de mundo e posturas ideológicas, mas reconhecendo-o como a linguagem legítima deste transcurso. Por outro lado, enquanto a trajetória de Vertov e seu grupo os colocou cada vez mais isolados, conforme foram recrudescendo os valores do stalinismo ao longo da história da URSS, a carreira de Santiago Álvarez manteve-se atrelada ao poder central, particularmente focada no seu representante máximo, Fidel Castro. Por seus filmes ressoam ruídos do processo de centralização de poder, institucionalização e consequente arrefecimento do processo revolucionário, conforme será discutido nesta comunicação. |
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Bibliografia | ARAY, Edmundo. Santiago Alvarez: cronista del tercer mundo. Caracas: Cinemateca Nacional, 1983. |