ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | O porvir da contemplação: “Em Nome da Razão” e a reforma psiquiátrica. |
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Autor | Iago Rezende de Almeida |
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Resumo Expandido | Em Nome da Razão: um filme sobre os porões da loucura (Brasil – 1979), de Helvécio Ratton, será analisado em detrimento de seu papel político e na construção dos ambientes audiovisuais propícios ao debate e à Reforma Psiquiátrica, movimento que utilizou os recursos do filme para promover a luta antimanicomial no Brasil. As estratégias utilizadas para a denúncia das situações sensíveis são discutidas a partir dos processos de mediatização da dor nas experiências modernas (SONTAG, 2003), do papel do cinema enquanto produtor de discursos sobre a história (FERRO, 2010) e da potência das imagens-movimento (VASCONCELLOS, 2006; SILVA, 2009). Nas palavras de Foucault (2002), a loucura é a negatividade. A condição se manifesta sob fenômenos que hoje configuram as análises de seu comportamento discursivo. O Hospital Colônia foi instaurado em Barbacena em 1903. A partir do filme, é possível observar de que modo a instituição tinha as medidas punitivas aplicadas, no lugar do tratamento e reinserção social. O documentário “Em Nome da Razão: um filme sobre os porões da loucura” foi realizado por Ratton em 1979, na forma de um curta-metragem documental de 24 minutos. O filme foi produzido com recursos próprios, pelo Grupo Novo de Cinema e TV e também a partir dos incentivos da Associação Mineira de Saúde Mental. Sua estreia ocorreu durante o III Congresso Mineiro de psiquiatria e tornou-se prova cabal no processo de luta antimanicomial como amostra de que as intervenções nos hospitais psiquiátricos deveriam ser realizadas de maneira urgente. Em comparação às outras artes, o cinema é relativamente novo: a experiência da relação entre o homem e a mídia são integrantes da moderna relação entre o homem e a mídia. O documentário apresenta uma maneira hodierna de contemplar, através da mediação das lentes, os desastres, dores e tragédias que tomam lugares distantes – geograficamente e afetivamente –. Dotado de poder narrativo, o produto audiovisual pode se tornar um aliado na construção de novas percepções e debates. O cinema introduz, a partir do século XX, a ideia de que a película também é capaz de produzir discursos e ser coautor da história contemporânea (FERRO, 2010). Os diversos recursos sonoros que o documentário utiliza são diversificados: dão consistência à denúncia o depoimento dos profissionais que atuavam no local, a captação dos momentos em que músicas eram tocadas dentro das imediações e long-shots com os depoimentos dos pacientes. Na contemporaneidade, cabe à mediatização da tragédia a elucidação dos fatos ocorridos e a perduração da memória (SONTAG, 2002). A película, para além da sua capacidade de instrução carrega a capacidade de recortar as cenas e, por meio delas, discutir as situações que se sensibilizam no acometimento ao espectador. O documentário, então, captura e enquadra o real, expondo suas fragilidades. Na montagem de “Em Nome da Razão”, os depoimentos não foram premeditados. As decisões de Ratton se tornam necessárias para orientar o público acerca dos processos da luta antimanicomial e acerca da urgência da reforma psiquiátrica. A imagem “com muita frequência dá mais informações sobre aquele que a recolhe e a difunde do que sobre aquele que ela representa” (FERRO, 2010, p. 12). O filme documental utiliza sua capacidade de denunciar para fazer com o que o espectador se compadeça a partir da denúncia provocada. As dicussões suscitadas pelo filme sensibilizam o espectador que utiliza de sua consciência política a fim de contemplar a memória do conflito (SONTAG, 2003). Conclui-se que em um ambiente imerso pelo audiovisual, um filme pode transformar as concepções acerca da apresentação de sujeitos e uma reapresentação de processos históricos sob novas perspectivas. Credita-se, então, às filmagens do Hospital Colônia a incumbência de agir, em conjunto com as forças da luta da Reforma Psiquiátrica, para compreender o passado e produzir novas possibilidades do porvir. |
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Bibliografia | FOUCAULT, Michel. A História da Loucura na Idade Clássica. São Paulo, Perspectiva, 2002. |