ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | O ensaio nos arquivos: “Sinfonia e Cacofonia” e “Cinemacidade” |
|
Autor | Jefferson Bruno de Sousa Cabral |
|
Resumo Expandido | Na cultura midiática contemporânea, a apropriação de imagens e sons se tornou prática comum entre os meios de comunicação e os processos de criação artística. Período este em que acompanhamos a difusão das imagens digitais através da ecranosfera, ou seja, estado generalizado das telas na sociedade hipermoderna, possibilitado pelas novas tecnologias da informação e da comunicação (LIPOVETSKY; SERROY, 2009). Nesse sentido, com a imagem documental não foi diferente, ela se fez disseminar fora do seu espaço oficial de origem, ou seja, o arquivo. Logo, tal expansão dilatou o lugar da informação e da memória, que encontrou espaço propício de problematização em filmes e vídeos de natureza ficcional, ensaística, documental e experimental. Este trânsito entre imagem e documento – cinema e arquivo – é o elemento de tensão entre os domínios do cinema documental e ensaístico que o presente trabalho organiza seus questionamentos centrais. A discussão encontra terreno próspero em torno da produção coletiva de dois filmes-ensaios documentais da década de 1990, situados no contexto do Cinema da Retomada, momento no qual a produção do cinema brasileiro se reorganizou com as leis de incentivo que entraram em vigor no período. "São Paulo, Sinfonia e Cacofonia" (1994, 40 min., de Jean-Claude Bernardet) e "São Paulo, Cinemacidade" (1994, 30 min., de Aloysio Raulino, Marta Grostein e Regina Meyer), são obras audiovisuais irmãs, produzidas pela ECA-USP e financiadas pela Fapesp – essencialmente construídas na montagem de imagens e sons apropriadas de diversos filmes brasileiros – na qual a noção de documento é ampliada para um escopo gigantesco de ressignificação espacial e social da cidade de São Paulo. A proposta desta apresentação é lançar luz sobre o desenvolvimento de filmes ensaísticos no Brasil, contribuindo para a expansão do significado do tema e da inteligibilidade da forma, reorganizados a partir da noção do ensaio como um quarto domínio do cinema (TEIXEIRA, 2015). "São Paulo, Sinfonia e Cacofonia" e "São Paulo, Cinemacidade" se apresentam como experiências pioneiras de filmes ensaios nos anos 1990, expressões poéticas de rica inventividade formal e de meticulosa pesquisa de imagens, criadas num período em que o cinema nacional apresentou seu maior estado de desestruturação na produção e exibição de longa metragens. Esta condição do cinema produziu uma profícua relação entre a crítica e realização, no momento no qual Jean-Claude Bernardet inter-relaciona sua experiência como pesquisador do cinema brasileiro com a elaboração de um pensamento audiovisual que possui uma forma de enunciado poético em imagem e som, usando o próprio cinema como suporte e linguagem (MACHADO, 2003). O uso do conceito de filme-ensaio é fundamental por suscitar novas perguntas a respeito da criação de obras que utilizam a apropriação documental, confrontando os discursos tradicionais que generalizam o documento histórico como pertencente a natureza do documentário, e estreitando as fronteiras que separam os filmes de ficção dos filmes documentário. |
|
Bibliografia | CORRIGAN, T. O filme ensaio: desde Montaigne e depois de Marker. São Paulo: Papirus, 2015. |