ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Feminismo em Grey’s Anatomy como forma de representação e resistência |
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Autor | Virgínia Jangrossi |
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Resumo Expandido | Ao analisar historicamente questões de gênero na televisão, notam-se fatores problemáticos quanto à representatividade da mulher, como, por exemplo, a ausência de diálogos de personagens femininas no primetime da televisão norte-americana na década de 1950, ou o fato de 20% das séries dos anos de 1980 sequer terem personagens femininas (McCABE; AKASS, 2007). Diferenciando-se desse passado recente, no ano de 2005, presenciamos a criação da série Grey’s Anatomy (Shonda Rhimes), exibida há doze anos pela ABC. O seriado conta com um elenco principal de 15 personagens, das quais 9 são mulheres, densas e plurais. Ele representa e proporciona uma imersão completa no universo feminino pouco explorado ao longo da história. Visando abranger um amplo escopo sobre as temáticas feministas presentes nessa narrativa, será feito um recorte no qual serão apresentadas três personagens através de uma análise interseccional: Meredith Grey (Ellen Pompeo), Cristina Yang (Sandra Oh) e Callie Torres (Sara Ramirez). A escolha dessas personagens se dá pelo fato de, ao longo da trama, ser possível encontrar momentos pontuais que expressem mudanças em suas personalidades, visto que, por vezes elas foram tidas como submissas em seus relacionamentos amorosos, ou menosprezadas profissionalmente em relação aos demais personagens – em especial os do sexo masculino, – porém, passam a assumir papeis de liderança e, além disso, reforçam através de seus diálogos os direitos da mulher. Pretende-se ilustrar as transformações positivas oriundas desta televisão-porta, através da qual as mulheres podem ocupar também seu espaço na sociedade, sem que tenham de esperar uma figura masculina, heroica, que traga uma salvação/redenção. Através desta nova configuração – que inverte percentual e narrativamente os papéis do feminino – visa-se mostrar que, além de certificar os direitos da mulher já alcançados na sociedade norte-americana, pode-se também, devido à repercussão global do seriado, notar uma abertura do público em relação a temáticas tidas como tabus em outras sociedades. Por exemplo, ao exibir momentos de escolha da vida profissional em detrimento da familiar, ao normalizar relações entre pessoas do mesmo sexo, cenas de aborto e mostrar que mulheres podem ocupar posições de liderança, apresentam-se às mulheres outras possibilidades que não as instituídas e propagadas pelo patriarcado. Além disso, ao enfatizar a qualidade narrativa e temática, bem como sua importância política, será possível dissociar o valor pejorativo associado ao “feminino” e à cultura de massa. Assim, assume-se aqui a importância da televisão: “Em geral, a acusação comum na cultura americana de que a televisão [...] representa o mais baixo dos baixos na cultura é exagerada. Como temos visto, é frequentemente através da televisão [...] que os problemas das mulheres vêm sendo mais delicada e persuasivamente abordados. A este respeito, diminuir a TV a um mero entretenimento pode ser visto como diminuir os problemas femininos em geral. ” (McCABE; AKASS, 2007. p.59) [Tradução do autor]. Visa-se, portanto, mostrar que através da cultura de massa e da criação de narrativas que – mesmo sendo consideradas “comerciais” e de “entretenimento” – pode-se atingir um grande número de espectadores, de modo que certifique a perpetuação e resistência dos direitos alcançados pelas mulheres, bem como dos que se podem ser atingidos, aproveitando-se da boa receptividade global de seriados televisivos por parte do público. Por fim, objetiva-se mostrar que a narrativa seriada Grey’s Anatomy estimula o pensamento crítico a ultrapassar as hierarquias constituídas pela sociedade patriarcal – dentre elas a ideia de submissão e passividade feminina – e pode também estimular as mulheres a assumirem papeis ativos, dentro e fora da tela. |
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Bibliografia | HAMBURGER, Esther. I.. A expansão do feminino no espaço público brasileiro: novelas de televisão nas décadas de 1970 e 80. Revista Estudos Feministas (UFSC. Impresso), v. 15, p. 153-175, 2007. |