ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | O espaço imaterial no cinema de Jia zhangke : uma política do olhar |
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Autor | Camilo Soares |
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Resumo Expandido | A presente proposta tem como objetivo analisar a abordagem do espaço no cinema de Jia Zhangke, o cineasta mais destacado, junto a Wang Bing, da geração independente, ou sexta geração, do cinema chinês, como forma de engajamento de consciência política. A estética e a mise-en-scène de Jia fazem do registro cinematográfico a imagem do processo de mudanças da China atual, assim como um espaço construído subjetivamente a partir da memória e da imaginação. Seu cinema faz assim uma crítica sutil, mas contundente, da violenta modernização chinesa, que engendra a destruição de paisagens históricas, a perda de referências culturais e a exasperação social da população à margem desse processo desenvolvimentista. A partir da imagem, Jia busca primeiramente construir uma leitura histórica e dialética do espaço da China contemporânea. O que está em jogo nessa forma de visão ativa de escritura histórica é, como diz Ricoeur, a própria identidade das coletividades e comunidades, na sua maneira de contar a eles mesmos “suas próprias histórias, contando as histórias dos outros”. Esse gesto se engaja contra o fenômeno do esquecimento, que se revela o desengrenar de um mecanismo de controle social, que impõe uma memória ensinada a uma coletividade, em forma de memória oficial. O cinema de Jia desenvolve, assim, uma forma de perceber e combater a ideologia oficial escondida num espaço a partir da formulação de sua história ; tal ideologia que Hannah Arendt chamava de Modernidade e Benjamim simplesmente de Progresso. Dessa forma, a câmera de Jia não atua como um mero aparelho de registro do espaço : suas imagens agem sobretudo como mediadores culturais, dando forma, sentido e existência a esse mundo filmado. Entretanto, como Henri Lefebvre, desconfiemos de saltos demasiado rápidos entre teoria e prática, do mental ao social, quando falamos de produção de espaço. Segundo ele, devemos antes de tudo ultrapassar o espaço neutro, o que se opõe tanto à visão kantiana quanto à tradição marxiste-materialista, ambas percebendo o mundo como um objeto sujeito à modernidade e ao progresso material. Os postulados de Lefebvre nos faz pensar a maneira pela qual Jia Zhangke conduz a passagem de um espaço puramente físico e funcional a uma expressão estética capaz de despertar uma experiência social, revelando assim um potencial político. |
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Bibliografia | G. Didi-Huberman, L’image survivante, Paris, Les Ed. de Minuit, 2002 |