ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | Figuras na neblina. Paisagem e melancolia no cinema da Emilia Romagna |
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Autor | Angela Freire Prysthon |
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Resumo Expandido | A partir de um panorama conceitual sobre a paisagem no cinema, que implica na distinção entre uma concepção cênica e territorializada em contraposição a uma função mais contemplativa e mais imediatamente material do espaço, o objetivo desta apresentação é analisar e discutir quatro filmes de ficção italianos ambientados na região da Emilia-Romagna - “O grito” (1957) e “O deserto vermelho” (1964) de Michelangelo Antonioni, “A noite do massacre” (1960) de Florestano Vancini, “De punhos cerrados” (1965) de Marco Bellocchio e “O jardim dos Finzi-Contini” (1970) de Vittorio de Sica. Esse pequeno conjunto fílmico, marcado por sua aderência ao chamado cinema moderno italiano, revela também uma unidade pictórica que pode ser sintetizada pelo apreço a uma ambiência de melancolia e nostalgia. Em cada um dos filmes é possível identificar sequências nas quais cabe à paisagem a definição do tom, do estilo e da mise en scène do filme: as árvores secas no inverno ferrarense em “O grito”; a fumaça branca que se mistura à neblina em “O deserto vermelho”; a névoa que perpassa os soldados fascistas no centro de Ferrara em “A noite do massacre”; o jogo tenso entre os interiores claustrofóbicos e os exteriores frios e montanhosos do norte da Emilia-Romagna e os passeios de bicicleta circundando propriamente “O jardim dos Finzi-Contini” também em Ferrara. São todos momentos que realçam o papel dos espaços na criação de mundos cinemáticos e de certo modo confirmam que a paisagem não é apenas a representação pictórica do espaço, mas que incide diretamente nas formas de percepção e composição do espaço no cinema. Nossa hipótese inicial é que a ambiência e a formação de tom e estilo são simultaneamente determinadas e condensadas por características da própria paisagem na qual os filmes são localizados. A Emilia-Romagna, região do norte da Itália, é conhecida por uma densa névoa, muito frequente no outono e no inverno, sobretudo nos arredores de Ferrara e do Delta do rio Po (retratado, aliás, em um documentário de Vancini, “Delta Padano” (1951), que será brevemente aludido neste artigo). Quatro dos cinco filmes são majoritariamente ambientados nessas estações mais frias do ano e o quinto (o filme de De Sica) explora um arco mais abrangente de tempo, mas ainda assim usando um foco esfumaçado mesmo para as cenas no verão. Ou seja, não é coincidência apenas a reincidência do tom melancólico e nostálgico nesses filmes, mas parte de um predicado espacial depreendido dessas paisagens envoltas em névoa. Para desenvolver esta hipótese e para analisar os filmes, baseio-me tanto no lastro teórico dos estudos da paisagem na pintura e no cinema (Berger, 2016; Nancy, 2005; Lefebvre, 2006), como em abordagens mais pontuais sobre a ambiência e a espacialidade no cinema moderno (Bruno, 2002; Mamula, 2013; Sinnebrink, 2012), além, evidentemente, da literatura sobre o cinema italiano moderno (Antonioni, 2007; Bernardi, 2002; Bonfand, 2003; Brook, 2009; Micallizzi, 2002). |
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Bibliografia | Antonioni, Michelangelo. The Architecture of Vision. New York: Marsilio, 2007. |