ISBN: 978-85-63552-24-2
Título | A experiência sonora e o processo criativo no filme Eugênia no Espaço |
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Autor | Henrique Gomes |
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Resumo Expandido | A gravação de campo, ou field recording, foi a principal prática utilizada pelo World Soundscape Project (WSP) para se aproximar dos sons da cidade e produzir, entre outros projetos, The Vancouver Soundscape. Tais registros sonoros tornaram-se essenciais para o desenvolvimento do conceito de paisagem sonora, na figura de R. Murray Schaffer. Da mesma forma que esses registros ajudam Schaffer a fundamentar o conceito de paisagem sonora apresentado em sua obra A afinação do mundo, de 1977, o inverso também ocorre: o desenvolvimento de tal conceito influencia diretamente as práticas de pesquisa sonora que nele se pautam. Em uma pesquisa pautada pelo conceito de paisagem sonora apresentado por Schafer, a gravação de campo (field recording) foi a principal prática utilizada por ele e pelos outros integrantes do WSP para se aproximar da cidade e levantar questões a respeito da poluição sonora. Através dessa metodologia, o WSP desenvolveu diversos projetos de mapeamento sonoro e construiu um acervo de pesquisa importante, movimentando o debate em torno da ecologia acústica. Ao longo dos anos, a prática da gravação de campo se disseminou como a principal forma de aproximação em relação a paisagem ao tratarmos da pesquisa sonora em artes. No entanto, apesar da contribuição dessa prática em áreas diversas de pesquisa e criação em chamar atenção para a experiência do som, o conceito de paisagem sonora, como fundamentado por Schafer em "A Afinação do Mundo", tem sido amplamente revisto por diversos autores, como Tim Ingold, que propõem outra aproximação à percepção sonora. Em seu artigo "Against Soundscape", Ingold problematiza a visão otocêntrica que prevalece nos estudos da escuta. Segundo ele, a experiência perceptiva sonora cotidiana é de caráter multissensorial, ou seja, é uma prática de cooperação dos sentidos, que é diretamente afetada pelos múltiplos aspectos sensoriais da experiência. Ingold ressalta que “o poder do conceito prototípico de paisagem repousa precisamente no fato de não estar vinculado a qualquer registro sensorial específico – seja de visão, audição, tato, paladar ou olfato”. Para ele, “na prática perceptual ordinária estes registro cooperam tão proximamente, e com tal sobreposição de função, que suas respectivas contribuições são impossíveis de serem separadas” (INGOLD, 2015). Para Ingold, não há uma relação entre observador passivo que percebe a realidade concreta e pondera sobre os aspectos de determinado conjunto de sons, como o conceito de paisagem sonora introduzido por Schafer sugere. Há um processo dinâmico e recíproco entre o ambiente e um observador que é, necessariamente, participativo. Dessa forma, a pesquisa do som de um lugar é indissociável de aspectos visuais, táteis, ambientais e sociológicos da paisagem e da presença desse corpo participante. Sendo assim, a prática de gravação de campo como pesquisa sonora, ao pensarmos a abordagem de Tim Ingold à paisagem, limita-se ao registro sensorial auditivo, deixando de lado outros aspectos fundamentais da experiência perceptiva sonora. Se a gravação de campo e a captação de som direto já não dão conta do som na paisagem, segundo a problematização de Ingold, que outras práticas são possíveis para a pesquisa sonora nas artes e, mais especificamente, no audiovisual? Busco nesse texto tensionar a abordagem otocêntrica recorrente nessa área de pesquisa para refletir sobre outras formas de se aproximar do som na paisagem, levando em consideração a cooperação dos sentidos na experiência perceptiva cotidiana. Para isso, recorro a análise do processo de realização do curta-metragem “Eugênia no Espaço”, realizado por mim e por Juliana Siebra em 2013, e do desenvolvimento de uma proposta de desenho sonoro que recorre a visitas ao espaço e a procedimentos da performance como alternativa à captação de som direto. |
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Bibliografia | GALLAGHER, Michael. Field recording and the sounding of spaces. In: Environment and Planning D: Society and Space 2015, volume 33. SAG Publications. 2014. |